O Prémio de Literatura da Nova Academia foi criado como protesto contra o cancelamento do Prémio Nobel da Literatura e tinha quatro finalistas: o japonês Haruki Murakami, a vietnamita Kim Thúy, a francesa Maryse Condé e o inglês Neil Gaiman.
"Nas suas obras, com uma linguagem precisa", Maryse Condé "descreve os danos do colonialismo e o caos do pós-colonialismo", afirmou hoje a Nova Academia, no anúncio realizado na Biblioteca Pública de Estocolmo.
Maryse Condé, nascida em Guadalupe, em 1937, feminista e ativista, vive nos Estados Unidos e é considerada uma das autoras mais destacadas das Caraíbas, tendo escrito cerca de 20 romances e recebido vários prémios de prestígio.
Conhecida como uma das mais importantes difusoras da cultura africana nas Caraíbas, Maryse Condé descreveu como o colonialismo mudou o mundo e como os que são afetados retomam a sua herança.
“Desirada”, “Segu”, “Crossing the Mangrove” e “Who Slashed Celanire's Throat?” são algumas das obras que escreveu, sem qualquer edição em Portugal.
Os quatro finalistas foram escolhidos por uma votação aberta ao público, a partir de uma escolha prévia de 47 escritores, feita por cerca de três mil bibliotecários.
Em setembro, o japonês Haruki Murakami pediu à Nova Academia que retirasse o seu nome da lista de finalistas, para se "concentrar na escrita", embora agradecesse o reconhecimento, como explicou numa mensagem de correio eletrónico.
Na mesma altura, foi anunciada a edição do novo romance de Murakami, "A morte do comendador", que deverá chegar a Portugal em novembro.
O prémio alternativo, no valor de um milhão de coroas suecas (cerca de 96.000 euros), foi atribuído pela Nova Academia, organização fundada este ano por várias figuras culturais suecas, entre as quais jornalistas e autores, como forma de protesto ao cancelamento do Prémio Nobel por parte da Academia.
Está marcada uma cerimónia para entrega do prémio à escritora laureada no dia 9 de dezembro. A Nova Academia será dissolvida após esta cerimónia formal.
A Academia Sueca decidiu não atribuir o Nobel da Literatura na sequência de um escândalo de abuso sexual e de crimes financeiros, que rebentou no final do ano passado com denúncias de 18 mulheres a um diário sueco.
O homem no centro do escândalo, o artista Jean-Claude Arnault, foi condenado no início deste mês a dois anos de prisão por violação.
Jean-Claude Arnault, casado com a académica e poeta Katarina Frostenson, membro do comité que decidia a atribuição do Nobel da Literatura, foi acusado de dois episódios de violação cometidos em 2011, contra a mesma mulher.
Ao rebentar o escândalo, no final do ano passado, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.
Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson era coproprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, o que violava as regras de imparcialidade.
O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada várias vezes.
Pressionados pela Fundação Nobel, a Academia Sueca lançou várias reformas e a decisão mais controversa foi a de adiar a atribuição do Prémio Nobel de Literatura, este ano, pela primeira vez em sete décadas.
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