Sendo um dos festivais mais ecléticos, a nível nacional, o Sudoeste tem o poder único de nos pasmar, ano após ano. Porém, com essa particularidade advém uma outra: tanto nos pode arrebatar por completo – e deixar-nos a trautear durante horas - ou desiludir-nos, irremediavelmente - fazendo-nos implorar para que acabe. É com a metáfora entre uma montanha russa e os altos e baixos musicais do festival que partilhamos o que de melhor e pior se viu e ouviu na Herdade da Casa Branca.

Para começar, e porque nunca havíamos testemunhado uma receção ao campista tão bem composta, o destaque vai para Avicii, o sueco de 23 anos, que apresentou um set diversificado sem que este se revelasse excessivamente comercial. Apostou nas passagens de músicas, nos efeitos de fumo e fogo e permaneceu todo o tempo em silêncio, porém, sempre de olho nos festivaleiros. Quando todos esperavam que o cair do pano soasse a “Wake Me Up”, o DJ continou de mãos na mesa de mistura e ajudou a queimar energias durante mais alguns minutos.
Já no primeiro dia e porque assim nos habituou, Richie Campbell voltou ao palco principal do Sudoeste para mais um concerto de excelência. Fazendo já “parte da mobília”, o embaixador do reggae português pisou, pela oitava vez, a Herdade da Casa Branca – e espalhou simpatia e dedicação. Pudemos assistir a um espetáculo quente, em que, como o próprio Ricardo disse “50% do trabalho foi do público”. Interagindo sempre e desfilando vários temas de “That’s How We Roll” a “Get With You”, o concerto contou ainda com a participação especial de Dengaz – que, algum tempo antes, se portara, irrepreensivelmente bem, num contexto mais acústico, no palco Santa Casa.
E, ainda que Richie Campbell se tenha mostrado satisfeito por dividir o palco com grandes nomes do reggae – Natiruts e Soja – a noite foi, indiscutivelmente, de Pitbull.  O norte-americano deu o concerto mais divertido – e dançável – de toda a edição do MEO Sudoeste. Nos ecrãs gigantes, vimos uma sucessão de letras de músicas, títulos, vídeos; em palco, um furacão de origem cubana escoltado por sensuais – e pouco vestidas – bailarinas. Falando em inglês e em espanhol, tentando passar pelo português, deixava todos a dançar e, pouco a pouco, chegavam cada vez mais pessoas. Pelo caminho, atravessavam o recinto abanando a anca, saltitando e rindo. Já no palco, Armando revelou-se um latino expressivo, sempre de sorriso no rosto, deitou a língua de fora, distribuiu beijinhos e “espalhou magia”. A noite ainda estava longe do fim e o recinto havia-se transformado numa agigantada feira. De J-Lo a Ne-Yo, de Afrojack a TJR, de Christina Aguilera a Chris Brown, com passagens por músicas que soavam mesmo às pequenas feiras das aldeias, músico provou que conseguia cantar, falou com o público, frequentemente, e dedicou aos portugueses um “Danza Kuduro” que foi recebido entre aplausos, saltos, gritos, palmas e, obviamente, muitos passos de kuduro. “Don’t Stop The Party” foi um dos momentos altos da noite. E, bem, todo o aparato e a reação surpresa do público coroaram o concerto que foi “Bon, bon, bon”.
Terceiro dia de festival e não temos como fugir a Janelle Monáe. A cantora repetiu a receita do sucesso de 2011. Muita entrega, teatralidade, expressividade e amor por aquilo que faz. Perante um público que esperava, visivelmente, por Fatboy Slim, a norte-americana não desanimou e atirou-se, literalmente, para os braços do público – fazendo crowdsurf mesmo mesmo ao cair do pano. Com uma voz potente e um timbre que mudava à velocidade da luz de doce para áspero, a simpática cantora falou sobre o racismo, as dificuldades que viveu e pediu a todos para arriscarem a sua própria felicidade.
 Mas de todas as surpresas, as maiores guardaram-se para o fim. Anselmo Ralph, foi algo que não esperávamos. Convidado para colmatar a ausência de Solange, o público do Sudoeste não pareceu muito importado com a falta da irmã de Beyoncé. Anselmo falava português, elogiava Portugal, agradecia a todos. Fazia milhares de pessoas dançar e brincava, constantemente. “Curtição” foi um dos pontos altos da noite – com o público entoando toda a música do angolano. O kizomba e a simpatia de Ralph evidenciaram-se quando convidou os portugueses a visitar o seu país ou se sentou nas colunas dizendo que era a sua vez “de pagar bilhete. Vim aqui para vos ouvir”. Entregou o microfone e “Não Me Tocar” dividiu-se entre o ritmo de Anselmo e a felicidade do público.

Depois de uma surpresa, outra ainda maior. Nos últimos anos, os Orelha Negra transformaram-se, rapidamente, numa espécie de Xutos e Pontapés. Correm todos os festivais, têm concertos atrás de concertos. E por mais que o grupo seja criativo e composto por excelentes músicos - Pacman chegou mesmo a afirmar que Fred era “o melhor baterista do mundo” tornava-se um pouco repetitivo assistir a tantos dos seus concertos. Porém, além do alinhamento ser uma delícia para os ouvidos, pudemos confirmar que o grupo português soa bem melhor acompanhado. A orquestra acrescentava um toque mágico mas as participações elevaram todo o conceito a um novo patamar. Da Chick cantou “Blues Booze”, Orlando Santos fez “Since You’ve Been Gone” soar, exatamente, como no álbum e Valete, Bónus e Adamastor saltaram para o palco para trazer um pouco mais de hip-hop. “Quando eu disser hip, vocês dizem hop… Hip…”, começava Valete. “Hop!”, respondia ao público. Era impossível sair de frente do palco e o magnetismo era comum a todos – disse, quem passou por outros palcos, que toda a gente se concentrava ali, no espetáculo do quinteto.
Mas é quando, depois de uma introdução de Cruz, Carlos Nobre entra em palco fazendo-se acompanhar de David Cruz, que o queixo e algumas lágrimas caem por completo.
«Está aqui tanta gente. Já fui muito feliz neste palco. E hoje vou ser novamente», visivelmente emocionado.
Depois de um par de músicas, nova surpresa. Antes de Regula se juntar à confusão instalada no palco, Pacman toma de novo a palavra. “Vocês têm aqui um dos melhores MCs nacionais. Hoje, pela primeira vez num concerto dos Orelha Negra, o Sam vai sair dali”, apontando para a mesa de mistura. Até ao fim, não sem antes de um ardente “Poetas de Karaoke”, o público perdeu-se em danças e braços no ar. A grandiosa salva de palmas para os Orelha – e todos os seus convidados - tornou qualquer som inaudível. Mas que fantástico espetáculo nos proporcionaram!
Snoop Lion entrou em palco mas não sem antes de ser anunciado, dignamente. Ainda que, de há dois anos a esta parte, viesse acompanhado de Jah, foi apresentado como Snoop Dogg, o heterónimo a que sempre nos habituou. Ele, que não desiludira em 2011, conseguiu dar um espetáculo bem mais animado do que o de há dois anos – o que já nos parecia difícil. Começando pela parceria com Justin Timberlake, “Signs”, passando pela colaboração com Katy Perry, “California Gurls”, ou “Sweat” com David Guetta, o alinhamento prometia. Bem mais animado, caminhava sobre o palco, mexia-se, abanava-se com as bailarinas e brincava com o público. Com referências a Tupac, uma “Young, Wild & Free” que é tatuagem de muitos dos festivaleiros e uma lendária “Drop It Like It’s Hot”, precipitámo-nos para final e, o artista já saiu como Snoop Lion - ao som do rei do reggae, Bob Marley – e com um dos seus músicos a levar nas mãos uma camisola do Sporting com um 1 e o nome de “Snoop Lion”.

Do melhor passamos para o pior. O desfile de tristezas começou com SOJA. A grandiosidade do grupo é indiscutível mas o fato de não ter sido o melhor concerto, em terras lusas, também. Se não contarmos a colaboração de Richie Campbell, podemos afirmar que todo o espetáculo foi um pouco monótono – e pareceu-nos ainda mais por se seguir a um explosivo Pitbull. Tudo isto, somando ao ar triste e cansado de Jacob Hemphill, num espetáculo muito aquém daquele que encheu o Coliseu dos Recreios, em novembro.

A portuguesa Kika estreou-se também no festival – e logo no palco principal. A jovem fez um soundcheck onde apenas falhou alguns versos de Eurythmics e deixou-nos desejosos de a ouvir. Já em palco, mais perto das 22h, apresentou sinais de nervosismo e desafinou por diversas vezes fazendo-nos questionar todo o burburinho de que tem sido alvo.
A Kika, e porque dia dez foi dia de desilusões, seguiu-se Cee Lo Green. O mestre do funk, soul, r&b e hip-hop, foi talvez o que maior desalento nos causou. Habituado a ocupar o palco muito à maneira de Las Vegas, pareceu ter, amigavelmente, entregue as luzes da ribalta a Pitbull. Para quem já vestiu fatos de lantejoulas e é dono de um enorme carisma, o cantor fez-nos estranhar o seu fato de treino e chinelos aliados à sua falta de groove. Quando esperávamos algo quente como The Roots, o produtor musical norte-americano desafinou, não nos deixou uma boa impressão da sua voz e nem as bailarinas, ou os restantes membros dos Goodie Mob, puderam salvar a atuação. Há semelhança do que acontecera com Kanye West, demos por nós a pensar que os produtores deveriam viver apenas no estúdio (falta ver-nos Timbaland para a prova dos nove).
O mais aguardado nome do cartaz era, sem qualquer sombra de dúvidas, o DJ do momento: Calvin Harris. No regresso a Portugal, depois de já ter acompanhado Rihanna, em terras de Camões, o escocês veio apresentar o seu álbum e todas as colaborações. Talvez nas primeiras filas, tenha sido um concerto histórico mas para quem ouvia a música, balançava e se perdia nos ecrãs, as coisas pareciam bem mais desenxabidas. Esperava-se muito mais do que foi dado e, ainda que se tenha dirigido ao público e apostado em fumo, fogo e confetti, faltava algo. Guetta havia posto mais gente a cantar e a dançar há dois anos. E, talvez por este festival ter tanta música eletrónica, nos soava a mais do mesmo – ou não porque DJ Ride soube bem melhor. As bridges entre as músicas variavam pouco ou nada e não eram de todo as opções mais interessantes. Como sempre, ouviram-se trabalhos de Ingrosso – ou mesmo de Swedish House Mafia – com um DJ que poderia ter tentado não cair em facilitismos. Os próprios Swedish House fizeram melhor em qualquer uma das passagens em Portugal – e fizeram-no, com maior entrega, para bem menos público.
É importante dar valor à grande comitiva de artistas portugueses que se dividiram pelos palcos do MEO Sudoeste. De Ninja Kore a Kura, de João Só a Tiago Bettencourt passando pelo épico concerto de Orelha Negra ou o elétrico espetáculo dos Salto é preciso bater palmas a todos os artistas que conseguiram manter o público atento e fizeram parte do que melhor se fez no Alentejo. Para o ano há mais!

Fotos: Ana Rita Santos e Raquel Cordeiro

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