Os atores Pedro Moldão, da portuguesa mala voadora, e Miranda Trnjanin, da eslovena Moment, são os protagonistas desta peça que inicia um ciclo que promove aproximações entre dois artistas com duas culturas distintas, criando um espetáculo que serve de pretexto para a companhia portuguesa encontrar “artistas de outras geografias e experimentarem em conjunto, e esboçarem a possibilidade de se entenderem artisticamente em cena”, disse à agência Lusa Jorge Andrade, diretor artístico da mala voadora, no final de um ensaio da peça.

No palco, após mostrarem o teste genético realizado por cada um dos atores, Pedro e Miranda socorrem-se de livros, ilustrações, fotografias e documentos antigos sobre os parentes mais próximos e os mais remotos de ambos, alguns dos quais viveram centenas de anos antes.

Os dois vão tentar entender onde as histórias de ambos se podem ter cruzado, falando de migrações, traições, histórias de amor, rotas comerciais, guerras e acordos de paz, num passado que não conhecem, mas que vão ficcionando para contarem a sua história ao público, disse à Lusa Pedro Moldão.

“Somos uma gigantesca e prolongada recombinação de uma massa de ADN moldada de modos infinitamente singulares”, acrescentou.

Após um primeiro estudo de cruzamento de testes genéticos com um artista do Liechtenstein, a mala voadora partiu para o primeiro espetáculo do ciclo com a artista eslovena de ascendência bósnia Miranda Trnjanin. A experiência terá seguimento ainda este ano através do cruzamento entre outro artista português da mala voadora e um músico lituano, acrescentou Jorge Andrade.

Em “Slovenia blood stories”, Pedro e Miranda farão “uma viagem” em palco que começará com a sua apresentação ao público e com a sua descrição sobre como se veem enquanto pessoas.

Nessa descrição falam sobre as características genéticas e hereditárias de ambos, nomeadamente as semelhanças físicas que têm com os pais ou outros ascendentes.

Só depois de mostrarem este lado mais factual, os dois artistas mostram ao público os testes genéticos que fizeram passando através do mapa genético que procura descobrir de onde vem o seu sangue e quem são os seus antepassados.

Não apenas os antepassados mais próximos, mas também os mais antigos como “aqueles que saíram de África e começaram a povoar o mundo e a cruzarem-se com outros seres que existiam na altura, como os Neandertais”, referiu Jorge Andrade.

“E são esses cruzamentos que fazem de nos aquilo que somos hoje”, frisou.

“’Slovenia blood stories’ acaba por ser um espetáculo composto pela história dos dois artistas, no caso do Pedro com familiares que vêm de Espanha no final do século XV na sequência da perseguição aos judeus, tendo muitos escapado para o norte de África e outros recolhidos pelo império otomano que neste momento já tinha incluído os Balcãs”, referiu o diretor artístico da mala voadora.

“Não é por isso de estranhar que no teste de ADN de Miranda tenhamos descoberto que também tem sangue ibérico”, frisou.

Com filmagens em direto, digitalização de fotografias, pinturas e gravuras e a exibição da árvore genealógica dos dois atores num grande ecrã em palco, “Slovenia blodd stories” acaba por ser “um espetáculo bastante lúdico na forma como a história é narrada”, disse Jorge Andrade.

A peça terá duas representações, na quinta e sexta-feira, na Escola do Largo, em Lisboa. No sábado, será representada no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, e dias 29, 30 e 31 de maio, no espaço da mala voadora, no Porto.

A 16 de junho será representada em Berlim, e de 31 de agosto a 2 de setembro, na Eslovénia, adiantou Jorge Andrade.

Com direção de Jorge Andrade, o espetáculo tem cenografia e figurinos de José Capela e desenho de luz e direção técnica de João Fonte.