“A cultura fica muito mais pobre na perspetiva de que o Jorge [Silva Melo] nos deixou. Mas, o Jorge deixa-nos também uma enorme obra, um enorme trabalho, um enorme exemplo e um enorme legado que, através das muitas gerações que passaram por ele e que ele, naturalmente, de alguma maneira tocou, que irão perpetuar esse legado”, afirmou a ministra Graça Fonseca.

A governante falava aos jornalistas, em Castelo Branco, à margem da cerimónia de assinatura dos autos de transferência de competências para a gestão, valorização e conservação de vários equipamentos culturais que decorreu no Museu Francisco Tavares Proença Júnior.

Fim da Cotovia suspende edições de teatro,

Tradutor, dramaturgo, crítico de teatro e cineasta, Jorge Silva Melo morreu na noite de segunda-feira, aos 73 anos, no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de doença oncológica, como comunicou a companhia Artistas Unidos, que dirigia.

“[Jorge Silva Melo] partiu, mas certamente que alguém com marca tão incontornável e tão estruturante da cultura e da democracia em Portugal, gosto de dizer da cultura e da democracia, porque o Jorge teve um papel fundamental na consolidação do regime democrático em Portugal através, naturalmente, da cultura e de tudo o que o Jorge foi”, afirmou.

“Hoje é um dia triste, um dia em que estamos vazios, mas apesar de tudo, com a certeza de que o legado dele continuará através dos muitos que ele tocou”, concluiu.

Nascido em Lisboa, a 7 de agosto de 1948, Silva Melo fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia (1973-79), e fundou em 1995 a companhia Artistas Unidos, de que era diretor artístico.

Estudou na London Film School, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e estagiou em Berlim junto do encenador Peter Stein, e em Milão com Giorgio Strehler.

Foi autor das peças "Seis Rapazes Três Raparigas", "O Fim ou Tende Misericórdia de Nós", "Prometeu" e "O Navio dos Negros", entre outras.

No cinema, realizou longas-metragens como "Agosto”, "Coitado do Jorge", "Ninguém Duas Vezes" e "António, Um Rapaz de Lisboa", além de documentários sobre arte e a vida de artistas plásticos, como Nikias Skapinakis, Fernando Lemos e Ângelo de Sousa.

Traduziu obras de Carlo Goldoni, Luigi Pirandello, Oscar Wilde, Bertolt Brecht, Georg Büchner, Lovecraft, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Heiner Müller e Harold Pinter.