A história da peça gira em torno de três atores, de duas gerações distintas. As personagens são o casal Matilde (Custódia Gallego) e Guilherme (Marques d´Arede) – Tita e Gui, como são designados ao longo da peça, ela perto dos 60 anos e ele de 60 e poucos -, e uma jovem estudante originária da Galiza, Sabela (Cristina Gayoso Rey), quase a atingir os 20 anos.
Em palco, a ação joga-se na sala de estar daquele casal de reformados, que há pouco tempo se mudou da cidade para o campo em busca do “tão desejado silêncio”, e da jovem estudante galega a quem alugaram um quarto da sua casa.
Apesar de pontuais entradas em palco, para pouco mais do que atender o telefone, Sabela é a personagem que põe em xeque a normalidade com que o casal descreve, e justifica com insistência, o seu quotidiano bem como a vida de outros de quem vão falando sem que nunca apareçam em cena.
Uma parede com flores pintadas, dois sofás, uma pequena mesa de apoio e uma jarra com flores sobre um pequeno móvel de corredor preenchem o cenário da peça, marcado por cores garridas. Tal como o figurino, sobretudo o de Tita, onde não faltam adornos como anéis, colares ou pulseiras, ou o colete estampado com flores envergado por Gui.
Ricardo Neves-Neves apaixonou-se pelo texto de Martin Crimp “não só pelo conteúdo e pelos temas”, mas “também pelo ritmo que exige".
"Que é assim uma espécie de cavalgada constante, de comboio sempre em andamento”, com um “lado de prosápia” que lhe agrada, explicou aos jornalistas, no final de um ensaio.
O facto de o texto começar e terminar com “um género de adoração ao silêncio que nunca acontece” também lhe agradou.
No palco, os espectadores ficam sentado em plateia.
Ao longo da peça nunca se percebe bem quem são aquelas personagens. Nem que intimidade têm, apesar de pontuais gestos de carinho, porque a maioria das vezes tratam-se com um discurso de cerimónia.
No diálogo entre o casal, os temas constantes são passeios, viagens e piscinas. Os afetos nunca são aflorados. O facto de o texto dar “um género de atenção à ideia de [se sentir] simpatia pelos maus” foi outro dos temas do texto pelo qual o encenador se encantou.
“Ou seja, eu sinto relação com estas personagens, gosto destas personagens, tenho simpatia por estas personagens, mas as coisas que elas dizem…”.
O individualismo, o preconceito, a xenofobia, os ´apartheids`, a solidão acompanhada ou as várias nuances das relações conjugais e da condição humana são também transversais a toda a peça.
“É só preconceito”, acrescentou Custódia Gallego, para quem a peça fala da dificuldade de ainda hoje se aceitar a diferença “sem ser de uma forma condescendentezinha e com toleranciazinha que não é aceitação”.
Mais do que o choque geracional, “Definitivamente as Bahamas” põe em palco "questões relacionadas com mentalidade, moral, ética e ideologia, que também ultrapassam gerações", indicou Ricardo Neves-Neves.
Em Loulé, “Definitivamente as Bahamas” terá quatro sessões, dias 19 e 20, às 21h00, e dia 21, às 17h00 e 21h00, já esgotadas.
Com tradução de Isabel Lopes, desenho de luz de Cristina Piedade, a peça tem produção da Culturproject, Teatro do Elétrico e Cineteatro Louletano. Em 16 e 17 de dezembro último, teve duas apresentações no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, Açores.
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