Acusado de assédio sexual, o tenor espanhol Plácido Domingo anunciou esta quinta-feira que não irá subir ao palco do Teatro Real, de Madrid, e que vai cancelar outros concertos em outros espaços "que tenham dificuldades" para manter a sua participação.

Num comunicado enviado à AFP pelo Teatro Real, o artista de 79 anos também frisa que as desculpas que pediu na terça-feira às mulheres afetadas deram uma "falsa impressão". Destacou ainda que nunca se comportou "de forma agressiva com ninguém".

As declarações do músico provocaram os primeiros cancelamentos de concertos em Espanha, que até ao momento tinha sido benevolente com o célebre tenor.

Na quarta-feira, um organismo cultural do governo espanhol informou que suspendia a participação de Plácido Domingo no Teatro Nacional de la Zarzuela, de Madrid. Foi na sala da capital espanhola que o tenor iniciou a sua carreira, há 50 anos.

Depois, o artista disse que cancelaria os espetáculos de "La Traviata" previstos para maio, no Teatro Real, "para evitar que a situação pudesse afetá-los, prejudicá-los, ou causar qualquer inconveniente adicional".

"Além disso, vou-me retirar das atuações nos teatros e nas companhias que tiverem dificuldades de realizar esses compromissos", acrescentou.

O anúncio do tenor coincidiu com o de um festival de música e dança em Úbeda, no sul de Espanha, que cancelou um concerto do músico previsto para 3 de maio.

"Quero que saibam que sinto sinceramente o sofrimento que lhes causei"

O tenor espanhol Plácido Domingo, acusado nos Estados Unidos de assédio sexual por vinte mulheres, pediu na semana passada perdão pelo sofrimento que tenha causado.

"Quero que saibam que sinto sinceramente o sofrimento que lhes causei. Aceito total responsabilidade pelas minhas ações", disse o tenor, que sempre havia negado firmemente as acusações.

Numa investigação publicada em agosto pela agência Associated Press, nove mulheres alegaram ter sido assediadas pelo cantor no final dos anos 1980.

A Associated Press publicou uma segunda investigação em setembro, alegando que onze outras mulheres se apresentaram também como tendo sido vítimas do tenor.

No comunicado de imprensa divulgado pela agência espanhola Europa Press, Plácido Domingo afirma "ter pensado nos últimos meses nas acusações" e indica "entender agora que algumas dessas mulheres podem ter medo de se expressar honestamente porque temem que as suas carreiras sejam afetadas”.

O pedido de perdão de Plácido Domingo chegou no dia seguinte à decisão do júri de Manhattan de considerar o produtor de cinema Harvey Weinstein culpado de agressão sexual e violação, veredito aplaudido pelo movimento #MeToo.

Após as acusações de assédio sexual, Placido Domingo deixou em outubro a direção da casa de ópera de Los Angeles, que ocupava desde 2003.