“Tabu” é um espetáculo de quatro personagens “que não chegaram a ser personagens, que compõem uma tripulação que está a fazer uma viagem num barco que não vai a lado nenhum”, disse à agência Lusa a encenadora da peça, Juliana Pinho.

A missão das personagens é “recolher os segredos, os tabus”, aquilo que deixa os seres humanos “desconfortáveis” e sobre os quais, muitas vezes, nem ousam falar, disse.

Estes segredos são reunidos para que não se permita esquecer a condição humana: para “que não nos esqueçamos que todos nós temos um medo, todos nós temos um desejo reprimido. Partilhamos um inconsciente coletivo”, frisou a encenadora.

O facto de a peça ser uma coprodução com uma companhia de teatro para a infância, a Dschungel Wien, de Viena (Áustria), onde a peça já se estreou, fez com que ao longo do processo se lidasse com várias culturas.

A atriz Elif Bilic, da Dschungel Wien, é turca embora resida na capital austríaca há 10 anos, e a coreógrafa, Corinne Eckenstein, é suíça e reside em Viena.

Quanto aos atores de O Bando, Rafael Barreto é português e Nérika Amaral é luso-angolana.

“Portanto, há aqui uma mistura de viajantes e o espetáculo também bebe disso, destas perspetivas que estão também ligadas à cultura de cada um”, adiantou Juliana Pinho.

A peça teve um processo inicial com idas às escolas onde foram colocadas urnas por forma a que os alunos (a peça é direcionada para público a partir dos 12 anos) colocassem uma palavra que considerassem tabu, ou escrevessem as ideias que associavam à palavra tabu.

A partir daí, os envolvidos na peça começaram a perceber que grande parte dos tabus estavam associados à religião, à violência, sobretudo à indizível, frisou.

Este material foi trabalhado como movimento Zebra, um grupo que O Bando dinamiza desde 2019 e que envolve pessoas de várias nacionalidades, e a partir daí foi feita uma residência artística na sede de O Bando, com duas turmas do 6.º ano de escolaridade.

No processo de construção da peça não interessava definir o que é tabu, mas antes “que cada um entendesse como consegue tomar consciência de que ele existe, de que está lá dentro mesmo antes de saber que ele existe”, acrescentou a encenadora.

“Porque é no encontro com o outro que nós encontramos o nosso próprio tabu”, ressalvou.

Foram então encontradas cinco palavras – desejo, preconceito, medo, vergonha e proibido – que indicaram o caminho para a construção do texto e da peça.

A direção e encenação de “Tabu” é de Juliana Pinho em codireção com Corinne Eckenstein, que também assina a coreografia.

Com dramaturgia de Amarílis Anchieta e Susana Mateus, a peça tem cenografia de Rui Francisco, figurinos de Catarina Fernandes e música de Maria Taborda e Jason Macedo.

O desenho de som é de Miguel Lima e o de luz é de Michael Zweimüller, Hannes Röbisch e Rita Louzeiro.

“Tabu” é uma criação conjunta de O Bando e do Dschungel Wien, no âmbito do projeto europeu Connect Up, e vai estar em cena até 20 de novembro, com sessões de quinta-feira a sábado, às 21h00, e, ao domingo, às 17h00. Todos os sábados haverá conversas com o público.