O homem que tentou assassinar o escritor Salman Rushdie em Nova Iorque declarou ter-lhe aversão por “atacar o Islão” no seu romance “Os Versículos Satânicos”, que admitiu não ter lido, mas negou qualquer contacto com o Irão.

O jovem libanês de 24 anos Hadi Matar, nascido nos Estados Unidos e considerado por especialistas em radicalismo islâmico um simpatizante do Irão e da Guarda Revolucionária iraniana, emitiu estas declarações numa entrevista ao jornal The New York Post publicada na segunda-feira.

O autor britânico de origem muçulmana indiana de 75 anos, contra quem o ayatollah Khomeini (1902-1989) emitiu em fevereiro de 1989 uma ‘fatwa’ (decreto religioso) ordenando aos muçulmanos que o assassinassem, foi na passada sexta-feira esfaqueado dez vezes no pescoço e no abdómen, durante um evento literário público em Chautauqua, no norte do Estado de Nova Iorque, depois de ter vivido muitos anos em reclusão.

Na breve entrevista concedida ao diário norte-americano, o acusado, que está detido num estabelecimento prisional em Chautauqua, expressou surpresa por Rushdie ter sobrevivido ao ataque e evitou, a conselho do seu advogado, revelar se se inspirou na ‘fatwa’ do ayatollah que dirigiu o Irão desde a Revolução Islâmica, em 1979, embora tenha deixado clara a sua simpatia pelo antigo líder supremo iraniano.

“Respeito o ayatollah. Creio que é uma grande pessoa. É tudo o que direi sobre o assunto”, disse o arguido, negando ter contacto com o Irão ou com a ala dura do regime de Teerão.

Sobre “Os Versículos Satânicos”, o livro que levou Khomeini a emitir a sentença de morte há mais de três décadas, que retrata aspetos da vida do profeta Maomé de uma forma que muitos muçulmanos consideraram ofensiva e alguns blasfema, Hadi Matar acrescentou: “Li um par de páginas. Não li a coisa toda de uma ponta a outra.”

Em contrapartida, afirmou ter passado algum tempo a ver vídeos do escritor na plataforma digital YouTube: “Vi muitas conversas. Não gosto de pessoas assim tão falsas.”

Acrescentou que tomou conhecimento do evento em que Rushdie participaria quando, meses antes, viu um anúncio na internet, e expressou a sua aversão pelo escritor com diversas frases, como “não gosto dele” e “é uma pessoa que atacou o Islão, atacou as suas crenças, o seu sistema de fé”.

Sobre o agressor, filho de imigrantes libaneses, foram hoje revelados mais pormenores num artigo do diário The New York Times, que reuniu depoimentos de conhecidos seus que o descreveram como solitário, isolado e discreto, e declarações da sua mãe, Silvana Fardos, moradora em Fairview, Nova Jersey, que disse que ele em 2018 regressou de uma viagem ao Líbano para visitar o seu distante pai muito determinado a ser um fiel do Islão e que garante não querer saber mais dele.

Salman Rushdie, de quem logo após o ataque se disse encontrar-se em estado crítico, ligado a um ventilador em consequência do esfaqueamento no pescoço, correr o risco de perder um olho e com o fígado destruído pelos golpes, continua internado em estado grave num hospital do Estado da Pensilvânia e os pormenores sobre o seu estado de saúde têm sido escassos, mas o seu filho revelou que já não precisa de respiração assistida e que na terça-feira foi considerado “eloquente” quando prestou depoimento a agentes policiais.