A peça, que abre a temporada do Teatro Nacional São João (TNSJ), vai ser encenada pelo diretor artístico daquele teatro na Sala-Estúdio Perpétuo, que acolhe a Seiva Trupe desde o ano passado.

Assinalando uma carreira de mais de 60 anos de ator e encenador, Júlio Cardoso protagoniza o monólogo do dramaturgo russo num espetáculo que se estreia no dia em que a companhia assinala o 50.º aniversário e fica em cena até 17 de setembro, com sessões todos os dias às 19h30.

Encenado por Nuno Cardoso, trata-se de um trabalho que já “tinha sido falado com Jorge Castro Guedes, diretor da Seiva Trupe, mesmo antes do tempo da pandemia de COVID-19” e consiste numa maneira de “colaborar com a Seiva Trupe, uma companhia histórica do Porto”, disse o diretor artístico do TNSJ à agência Lusa.

Foi então que surgiu a oportunidade de criarem “um pequeno momento com um dos atores decanos do Porto, que é o Júlio Cardoso”, num espetáculo que assinala a estreia de Nuno Cardoso a trabalhar com o ator e encenador que já leva 64 anos de carreira e que diz estar a dar-lhe imenso prazer.

Escrito em 1887, o texto do dramaturgo russo que gira em torno de um ator de teatro que no espetáculo fica sozinho a recapitular o que foi a sua vida em palco deu o mote para esta parceria TNSJ/Seiva Trupe, levando o teatro nacional a iniciar a temporada fora de portas.

Sem qualquer relação familiar com Júlio Cardoso, embora partilhem o mesmo apelido, o diretor artístico do TNSJ explicou ter escolhido o texto de Tchekhov para ser interpretado por aquele ator histórico da cena teatral do Porto.

“Não há assim a ideia de criar um espetáculo para além do que é a celebração da carreira deste ator que atravessa várias décadas”, acrescentou o encenador, que conheceu Júlio Cardoso quando “era miúdo” e cujo trabalho foi acompanhando.

Está a ser “um prazer imenso vê-lo em palco a fazer coisas”, numa peça com contribuição artística de vários elementos do TNSJ, mas, sobretudo, a de Júlio Cardoso, referiu.

“É um projeto que dá extremo prazer porque basicamente é a forma que eu tenho de homenagear, não diria homenagear, mas estar um bocadinho com o Júlio Cardoso, porque às vezes acho que a memória é curta e não é só no futebol”, concluiu Nuno Cardoso.

“Quem sou eu”, “quem precisa de mim” e “quem gosta de mim” são algumas das questões que o papel representado por Júlio Cardoso tenta responder na peça sobre a dignidade do ser humano e a passagem do tempo, num texto que cruza farsa e tragédia.

Com sete representações sempre às 19h30, a última das quais com tradução em Língua Gestual Portuguesa, “O canto do cisne” tem tradução de António Pescada.

O espaço cénico e os figurinos são do TNSJ, com desenho de luz de José Rodrigues, desenho de som de António Bica e vídeo de Fernando Costa. A assistir na encenação está Sandra Salomé.

Fundada pelos atores António Reis, Estrela Novais e Júlio Cardoso a 11 de setembro de 1973, saídos do Teatro Experimental do Porto, a Seiva Trupe caracterizou-se, “desde o primeiro dia, por não querer ser um projeto de autor, [e] por ali passaram muitos e grandes encenadores como Pere Planella, João Guedes, Ulysses Cruz, Joaquim Benite e outros”, como se pode ler na página da companhia.

A Seiva Trupe estreou-se em palco em dezembro de 1973, no já desaparecido Teatro dos Modestos, com a peça “Musicalim na praça dos brinquedos”, da brasileira Stella Leonardos, com encenação de Júlio Cardoso.

Estabelecida no Teatro do Campo Alegre desde 1975, tornou-se na companhia residente de um edifício "pensado e construído para [a] albergar", ao abrigo de um protocolo com a Universidade do Porto e a Câmara Municipal, num processo que viria a ter um desfecho polémico em 2013, quando a companhia foi despejada, durante o mandato de Rui Rio.

A companhia foi condecorada pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o Grau de Membro Honorário da Ordem de Mérito, em 2010.