A caminho dos
Óscares 2022
O filme "A Metamorfose dos Pássaros", de Catarina Vasconcelos, é o candidato de Portugal a uma nomeação para os Óscares, revelou hoje a Academia Portuguesa de Cinema.
O filme, que tem somado vários prémios internacionais e está atualmente em exibição nos cinemas portugueses, é o candidato de Portugal a uma nomeação ao Óscar de Melhor Filme Internacional.
Segundo o regulamento na página oficial dos Óscares - cujas regras sofreram uma adaptação ao contexto pandémico - os filmes candidatos a uma nomeação para Melhor Filme Internacional têm de se estrear no país de origem entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2021 e ter pelo menos uma semana consecutiva de exibição comercial em sala. Não é obrigatória a estreia nos Estados Unidos.
No processo de seleção, há países que já escolheram o seu nomeado, entre os quais Espanha ("El buen patrón", de Fernando León de Aranoa), Colômbia ("Memoria", do tailandês Apichatpong Weerasethakul, protagonizado por Tilda Swinton), Irão ("A Hero", de Asghar Farhadi), França ("Titane", o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, de Julia Ducournau), Japão (Drive my Car", de Ryūsuke Hamaguchi), Alemanha ("I'm your man", de Maria Schrader), Roménia ("Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental", o vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim, de Radu Jude), Coreia do Sul ("Escape from Mogadishu", de Ryoo Seung-wan) e Finlândia (Compartment No.6", de Juho Kuosmanen).
O Brasil selecionou "Deserto Particular", de Aly Muritiba, que tem coprodução portuguesa pela Fado Filmes, através de financiamento e participação técnica, nomeadamente na montagem, assinada por Patrícia Saramago, explicou à agência Lusa o produtor Luís Galvão Teles.
A 94.ª edição dos Óscares, os prémios de cinema dos Estados Unidos, está marcada para 27 de março de 2022 em Los Angeles, na Califórnia. Os nomeados serão conhecidos a 8 de fevereiro. Na última cerimónia, o vencedor na categoria foi "Mais uma rodada", de Thomas Vinterberg (Dinamarca).
Segundo a Academia de Portuguesa de Cinema, "A Metamorfose dos Pássaros" foi o mais votado em relação entre todos os filmes que estavam na corrida para serem o candidato português ao Óscar de Melhor Filme Internacional: "Nunca Nada Aconteceu", de Gonçalo Galvão Teles; "O Som que Desce da Terra", de Sérgio Graciano; "Sombra", de Bruno Gascon; "Terra Nova", de Artur Ribeiro; e "O Último Banho", de David Bonneville.
O comité de pré-seleção dos seis filmes portugueses foi composto por André Szankowski (diretor de fotografia), Dalila Carmo (atriz), Elvis Veiguinha (‘sound designer’), Luís Cília (compositor), Marco Martins (realizador), Maria João Mayer (produtora) e Matamba Joaquim (ator).
"A Metamorfose dos Pássaros" é a primeira longa-metragem de Catarina Vasconcelos e teve a estreia mundial em fevereiro de 2020 no Festival de Cinema de Berlim, o primeiro de mais de 60 festivais internacionais por onde passou e conquistou vários prémios, como os de Melhor Filme no Festival de Vílnius, na Lituânia, e o Prémio Especial do Júri no Festival de Taipei, em Taiwan. Recebeu ainda o Prémio do Melhor Filme no Festival Dokufest, no Kosovo.
A distribuição em Portugal esteve por duas vezes adiada por causa de sucessivos confinamentos em tempos de pandemia, mas o filme estreou a 7 de outubro nos cinemas, somando até agora 5.542 espectadores, de acordo com dados do Instituto do Cinema e Audiovisual.
Segundo a distribuidora, "A Metamorfose dos Pássaros" foi em 2020 "o filme português com mais presenças em festivais em todo o mundo e o mais premiado", tendo sido reconhecido, em particular, com distinções de público de vários países, também da crítica e com prémios de melhor filme, melhor documentário e melhor realização.
Catarina Vasconcelos, 33 anos, demorou-se seis anos na criação deste filme, depois de ter feito a primeira curta-metragem, "Metáfora ou a Tristeza Virada do Avesso" (2013), em contexto académico, em Londres.
Os dois filmes aproximam-se em aspetos formais e temáticos, e interligam-se porque Catarina Vasconcelos filmou a família, abordando a relação dos pais e a morte da mãe, na curta-metragem, e a história de amor dos avós e a morte da avó paterna - que nunca conheceu -, na longa-metragem.
Entre a ficção e o documentário, "A metamorfose dos pássaros" convoca os laços familiares de um pai e uma filha - a realizadora -, resgatando o passado que os une, através da relação dos avós paternos de Catarina Vasconcelos e em particular da avó Beatriz, que nunca conheceu.
O filme parte das memórias de infância e juventude de vários membros da família, mas Catarina Vasconcelos preenche alguns espaços narrativos com ficção e com um imaginário estético que conjuga pintura, fotografia, composições encenadas, cheias de simbolismos.
"Eu queria que [o filme] fosse sobre esta família, mas que pudesse falar com outras pessoas. (….) O tempo que ele demora é quase o tempo que eu demoro a conseguir sair de mim para chegar aos outros. Consegui libertar-me da minha família e do medo de inventar sobre eles, para poder inventar à vontade. Isso foi muito importante", contou à agência Lusa quando o filme passou no festival de Berlim, onde recebeu o Prémio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci), da secção Encounters/Encontros.
Sobre este filme, Catarina Vasconcelos fala de "um processo altamente íntimo e pessoal", na conjugação da montagem de som e imagem, devedora de uma relação que a realizadora tem com as artes plásticas, e descrita como "uma coisa muito analógica, de bricolagem".
Há planos que parecem pinturas ou fotografias animadas, composições visuais encenadas e metafóricas, cheias de simbolismos, sobre a passagem do tempo e sobre a omnipresença da natureza.
"Todo este lado, que vem mais das artes plásticas, foi muito importante e o filme não podia ter sido construído noutro sítio. Foram as soluções que encontrei para dar resposta a coisas que eu sentia", explicou.
"A Metamorfose dos Pássaros" foi produzido por Pedro Duarte e Joana Gusmão, contou com apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da RTP e da Fundação Calouste Gulbenkian.
TRAILER "A METAMORFOSE DOS PÁSSAROS".
Comentários