A nove dias do grande dia, mais uma reviravolta: a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas recuou e já não vão ser cortadas quatro categorias da cerimónia em direto dos Óscares.

A decisão foi divulgada esta sexta-feira ao fim da tarde em Los Angeles, ao fim de cinco dias que sacudiram Hollywood de alto a baixo, numa intriga incendiária que envolveu centenas de atores, realizadores e outros profissionais, sindicatos da indústria, comentadores e fãs.

"A Academia ouviu as reação dos seus membros em relação à apresentação dos Óscares de quatro prémios - Fotografia, Montagem, Curta-Metragem em Imagem Real e Caracterização. Todos os prémios da Academia serão apresentados sem cortes, no nosso formato tradicional. Estamos ansiosos pelos Óscares domingo, 24 de fevereiro", anunciou a organização em comunicado.

O canal ABC, que transmite a cerimónia, não fez comentários. Segundo várias fontes, terá partido desta estação a pressão para a Academia excluir categorias com o objetivo de encurtar a cerimónia para as três horas.

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91ª cerimónia dos Óscares recheada de polémicas

Desde dispensar um anfitrião pela primeira vez em 30 anos, passando por uma ideia abortada de premiar o "filme mais popular", os organizadores dos Óscares procuram manter a importância e a audiência do prémio mais famoso do cinema entre controvérsias intermináveis.

Em agosto do ano passado, a Academia anunciou que os vencedores de algumas categorias seriam conhecidos durante os intervalos para a cerimónia não passar as três horas.

Provavelmente a decisão de acabar com a tradição de apresentar as 24 categorias em direto não causou tanta revolta porque as atenções ficaram para o "Óscar popular" e não foram logo anunciadas as que ficavam de fora.

Isso acabou na segunda-feira, quando John Bailey, presidente da Academia, revelou aos membros que as sacrificadas eram Fotografia, Montagem, Caracterização e Melhor Curta-Metragem de Imagem Real.

Escolhidas após os comités executivos de seis dos 17 ramos da Academia se terem voluntariado para este sistema, essas categorias seriam entregues durante os intervalos, com transmissão em direto por streaming no site Oscar.com e nas redes sociais da Academia, e depois exibidas numa versão editada em diferido ainda durante a cerimónia.

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Regressariam à cerimónia em direto de 2020, onde outras quatro a seis passariam para os intervalos.

John Bailey garantia que a Academia continuava empenhada em honrar os trabalhos de todos os 24 prémios, mas as ondas de choque em Hollywood foram imediatas, principalmente pela exclusão das categorias de Fotografia e Montagem.

O realizador mexicano Guillermo del Toro, vencedor da última cerimónia dos Óscares com "A Forma da Água", foi um dos mais mediáticos na linha da frente: "Se me permitem: não pretendo sugerir que categorias cortar durante a cerimónia dos Óscares, mas — Fotografia e Montagem estão mesmo no coração do nosso ofício. Não são herdados de uma tradição teatral ou literária: eles são o próprio cinema".

No mesmo sentido foi o realizador de "Roma", Alfonso Cuarón, que também está nomeado na categoria de Melhor Fotografia: "Na história do CINEMA, têm existido obras-primas sem som, sem cor, sem uma história, sem atores e sem música. Nunca existiu um único filme sem fotografia e sem montagem".

Um frequenta colaborador de Cuarón, Emmanuel Lubezki, o único diretor de fotografia a ganhar três estatuetas consecutivas, escreveu que "fotografia e montagem são provavelmente as 'partículas elementares', os componentes primordiais do cinema. É uma decisão infeliz".

Spike Lee, cujo filme "BlacKkKlansman: O Infiltrado" concorre em seis categorias, entre elas a da montagem, também expressou as suas críticas.

"Como realizador, sem o meu diretor de fotografia, editor, caracterizador e estilista, não há filme", disse, sugerindo que a produção da cerimónia deveria "desfazer-se de números musicais" para cumprir a meta das três horas.

Escalada nos protestos encurralou a Academia

A primeira organização profissional a reagir, logo na terça-feira, foi a American Society of Cinematographers (ASC), que junta diretores de fotografia e efeitos especiais, que numa mensagem aos seus 380 membros descreveu a ação da Academia como "muito infeliz" e acrescentava que "não podemos tranquilamente tolerar esta decisão sem protestar".

Na quarta-feira, foi divulgada uma carta aberta de protesto demolidora de quase 100 personalidades de Hollywood, principalmente ligadas à fotografia e realização.

"Relegar essas funções cinematográficas essenciais a um estatuto menor para esta 91ª edição dos prémios da Academia não é nada menos do que um insulto a quem dedica as vidas e paixão a estas profissões", indicou a carta aberta.

"Desde a sua criação, a cerimónia televisiva dos Óscares tem sido alterada ao longo do tempo para manter o formato relevante, mas nunca sacrificando a missão original da Academia. Quando o reconhecimento daqueles que são responsáveis pela criação de cinema excecional está a ser diminuído pela própria instituição cujo propósito é protegê-lo, então não estamos mais a cumprir o espírito da promessa da Academia de celebrar o cinema como uma forma de arte colaborativa", referia ainda o texto assinado por nomes como Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Spike Lee, Ang Lee e Damien Chazelle.

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Poucos minutos depois da divulgação da carta-aberta, a Academia escrevia aos seus membros para defender e clarificar a decisão: "Gostaríamos de vos garantir que nenhuma categoria de prémios na 91ª cerimónia dos Óscares será apresentada de uma forma que menoriza os feitos dos seus nomeados e vencedores como inferiores às outras".

A organização salientava então que "notícias imprecisas e mensagens nas redes socias" causaram "uma corrente de desinformação que compreensivelmente perturbou muitos membros da Academia" e garantia que apenas ficaria de fora do diferido o tempo que os premiados demoravam a chegar ao palco e depois a sair.

Na quinta-feira,  a carta-aberta adicionou mais nomes de vários setores da indústria e chegou aos 335, incluindo Alfonso Cuarón, George Clooney, Brad Pitt, Alejandro González Iñárritu, Guillermo del Toro, Frances McDormand, Sandra Bullock, Jessica Chastain, Robert De Niro e Emma Stone.

No mesmo dia, o sindicato de editores dos EUA também apelou formalmente à Academia para reconsiderar e a organização dos diretores de fotografia (ASC) solicitou um encontro urgente com os responsáveis da Academia.

A delegação formada pelo presidente da organização e os diretores de fotografia Emmanuel Lubezki, Rachel Morrison e Hoyt van Hoytema, encontrou-se com John Bailey e Dawn Hudson (CEO da Academia) na quinta-feira à noite.

Na sexta-feira, o sindicato que junta os profissionais de caracterização juntou-se formalmente ao protesto e a ASC anunciou aos seus membros que a Academia ficou de dar uma resposta às queixas ainda durante esse dia.

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