Se o título do disco não bastava, os das canções reforçam a ideia. "Cachupa Man", "Blues da Tanga" ou "Morninha do Inferno" ajudam a confirmar que este é o disco mais africano dos Dead Combo, mesmo que tenha sempre os pés bem assentes em Lisboa. Contradição? Nem por isso. "Sempre tivemos esse lado de mistura na nossa música, mas desta vez fomos mais para o continente africano", conta Tó Trips.

O guitarrista considera ainda que "África tem muita ligação com Lisboa, desde há séculos", embora a mulata que dá nome ao disco seja, na verdade, um instrumento musical, a guitarra mulata, "construída entre os anos 50 e 60 aqui em Lisboa" e ponto de partida para grande parte das canções do álbum.

A influência africana não impede que Pedro Gonçalves também encare este como o disco "mais português e mais lisboeta" dos Dead Combo e ainda o "mais alegre, mais dançável e um bocadinho menos negro":

Uma guest list curta, mas seletiva

O sucessor de "Vol. 1" (2004), "Vol. 2 - Quando a Alma Não É Pequena" (2006) e "Lusitânia Playboys" (2008) inclui, além da adição da guitarra, alguns convidados. Como o norte-americano Marc Ribot, guitarrista que já colaborou com Tom Waits, Elvis Costello ou John Zorn. "Era uma pessoa que já queríamos convidar há bastante tempo. Já lhe tínhamos enviado os nossos discos há uns anos valentes e depois, quando ele veio cá tocar em março, surgiu a oportunidade de nos encontrarmos. Estivemos a falar com ele e tal, convidámo-lo para gravar connosco e ele disse que sim. É um músico extraordinário", recorda o contrabaixista dos Dead Combo.

Marc Ribot participa em quatro dos primeiros temas de "Lisboa Mulata" e, mais para o fim do alinhamento, há outros convidados: Sérgio Godinho e Camané, ambos em "Ouvi o Texto Muito ao Longe". O primeiro assina a letra, o segundo surge irreconhecível num registo spoken word e sombrio q.b.. Pedro Gonçalves explica como chegaram a este resultado: "Estávamos os dois a trabalhar nas músicas ainda antes de gravar e achámos queseria fixe ter o Camané a fazer qualquer coisa numa delas - nem sabíamos bem o quê, na altura. Depois lembrámo-nos que o Camané não escreve, costuma cantar ou dizer coisas de outras pessoas, e como conhecíamos o Sérgio Godinho há muito tempo e a sala de ensaios dele é ao lado da nossa, fazia todo o sentido. Com dois telefonemas ficou resolvido".

Colaborador habitual, o brasileiro Alexandre Frazão completa o lote de convidados de "Lisboa Mulata" e a sua bateria ajuda, por exemplo, a criar o embalo da faixa-título (e primeiro single). "O Alexandre é nosso companheiro de estrada e de estúdio, já tinha gravado connosco o disco ao vivo no Hot Clube e adoramos tocar com ele. Mais uma vez, fazia todo o sentido tê-lo aqui", revela o contrabaixista.

Acompanhados no disco, sozinhos no palco

Nos palcos, "Lisboa Mulata" retoma o formato clássico dos Dead Combo e vai começarpor ser apresentado só pelos seus dois autores. "Nos concertos, vamos voltar à raiz da coisa. Vamos ser só nós os dois. Para o ano é que vamos fazer um concerto grande em Lisboa e, aí sim, vamos convidar seja lá quem for, mas vamos convidar bastantes pessoas", assinala Pedro Gonçalves.

Mesmo sem convidados, o duo tem algumas surpresas na manga - ou na cartola - para estas primeiras apresentações. Tó Trips avança algumas da vertente cénica: "Vamos ter outro tipo de cenário sem ser só os estojos das guitarras. Vamos ter um monte de quinquilharia, de tralha, ao fim e ao cabo, e vamos ter vídeo também, que é uma coisa que não usávamos - mas vídeo mais como cenário do que como uma coisa para passar imagens". Eventuais outras surpresas podem conhecer-se a 14 de outubro no Hard Club, no Porto, no dia seguinte no festival Sintra Misty e no dia 22 no Theatro Circo, em Braga - desta vez, e ao contrário do que é habitual nos concertos dos Dead Combo, talvez mais a dançar do que a contemplar.

Entrevista, ediçãoe texto @Gonçalo Sá/ Câmara @Edson Vital e Magda Wallmont

"Esse Olhar que Era Só Teu" (ao vivo na redação do SAPO):