
Videoclip de "Dark Allies":
Com um apelo físico imediato, as canções confirmaram ao vivo a força que já lhes reconhecíamos em disco, mesmo que não tenham sofrido grandes alterações na transição para o palco. Ao contrário do que a dupla sugeriu em alguns videoclips, portentos de nervo e tensão, o concerto raramente se desviou de uma precisão milimétrica mais implosiva do que dada a desvarios. "Dark Allies", estrategicamente colocada a meio da atuação, foi uma das raras exceções: sem dúvida a canção mais avassaladora dos Light Asylum (difícil de superar ou sequer igualar), resultou numa simbiose perfeita entre banda e público, encorajando Funchess a sair do palco para se juntar aos espetadores num exorcismo coletivo com tanto de hipnótico como de dançável - um exorcismo que expurgou quaisquer resquícios de cansaço acumulado ou atitude amorfa, num momento algures entre uma rave e um ritual de magia negra.
Depois disto, esperávamos que a vocalista deixasse de gesticular com as baquetas da bateria eletrónica e abraçasse uma postura mais aguerrida. O cenário, no entanto, foi outro (afinal, nem todas podem ser Alice Glass) e o concerto terminaria com temas relativamente calmos e melancólicos, como "A Certain Person", onde o caos deu lugar a alguma candura (ou a candura possível no universo sinuoso dos Light Asylum). Houve espaço para pouco mais, já que o encore contou apenas com um tema e o concerto ficou-se por uns frustrantes 45 minutos de duração. Funchess agradeceu e pediu desculpa por ter começado a atuação tão tarde, e isso até é fácil de perdoar. Não há é grande desculpa para ter terminado tão cedo...
Se os Light Asylum foram apressados, a banda de abertura pareceu ter vontade de tocar a noite inteira. Ao longo de uma hora, os Capitão Fausto apresentaram temas de "Gazela", o seu disco de estreia, "uma canção que ainda não é uma canção, mas é uma canção nova", nas palavras do vocalista Tomás Wallenstein, ou uma versão (mais acelerada) de "Estou Além", de António Variações (uma vez que, como o vocalista também assinalou, o primeiro EP do cantor celebrou ontem 30 anos). Entre momentos meticulosamente seguidores do formato canção, como o single "Verdade", ou acessos instrumentais com algum fulgor, o quinteto lisboeta teve o empenho e simpatia retribuídos por um público que, na sua maioria, nunca trocou a música por copos e conversas. Com este entusiasmo, não será difícil conquistar mais adeptos.
As noites Black Balloon no Lux são programas por Pedro Ramos, da Radar. Além dos Light Asylum e dos Capitão Fausto, a Black Balloon #6 contou com os Planeta Pop DJs.
@Gonçalo Sá
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