"As editoras de língua inglesa interessam-se por autores que têm ampla difusão e um elevado número de leitores nos países de origem", explicou o responsável pelo Centro de Estudos em Língua e Cultura Portuguesa na universidade King's College London.

Nos últimos anos, lamentou, Agustina Bessa-Luís deixou de "figurar entre os autores mais lidos, pelo simples facto de muitos dos títulos estarem esgotados, ou terem uma deficiente distribuição comercial".

Embora note a existência de tradutores ingleses com um conhecimento profundo da língua e da cultura contemporânea ou que colaboram com consultores e tradutores nativos, admitiu que não é fácil traduzir a obra da autora de "A Corte do Norte".

"Não porque seja intraduzível (Agustina tem várias das suas obras traduzidas para francês), mas porque exige um tradutor com uma competência linguística de quase-nativo, que não pode excluir um conhecimento seguro da cultura e sociedade portuguesas de todo o século XX", explicou.

AGUSTINA BESSA LUIS

Apesar de existirem edições em língua francesa ou italiana, não está traduzido para inglês nenhum dos romances de Agustina Bessa-Luís.

No ano passado, a tradutora britânica Margaret Jull-Costa incluiu alguns contos da escritora numa coletânea intitulada "Take Six: Six Portuguese Women Writers" juntamente com textos outras cinco escritoras portuguesas: Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Judite de Carvalho, Hélia Correia, Teolinda Gersão e Lídia Jorge.

De Agustina, incluiu cinco textos da coletânea "Contos Impopulares", publicada inicialmente em 1984: On the Road to Emmaus [No caminho de Emaús], The Conch Shell [Búzio], Green Philosophy [Espaço para sonhar], The Procession [O Cortejo] e Mushroom Weather [Míscaros].

A escritora Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, disse à Lusa fonte da família.

Agustina Bessa-Luís nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas.

O nome de Agustina Bessa-Luís saltou para a ribalta literária em 1954, com a publicação do romance "A Sibila", que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz, que constam de uma lista de galardões que inclui igualmente o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1983, pela obra "Os Meninos de Ouro", e que voltou a receber em 2001, com "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família".

A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Agustina recebeu ainda os Prémios Camões e Vergílio Ferreira, ambos em 2004, foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, agraciada com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989.