André Cunha Leal falava hoje na apresentação da programação e enfatizou: “Não vamos sacrificar as obras à tirania do tempo, e é assim que surgem obras de grande envergadura como as oratórias ‘A Criação’, de Haydn, e ‘A Danação de Fausto’, de Berlioz, ‘Gianni Schicchi’, de Puccini, ou ‘Das Paradies und die Pie’, de Schumann”.

Segundo Cunha Leal, esta opção por "obras de grande envergadura, com coros e muitos solitas, aproxima os Dias da Música dos grandes festivais internacionais".

“Nesta edição, os Dias da Música deixam de ser um festival pontual ao longo da temporada, e passam a estar integrados num ciclo, e correspondendo a um dos pontos altos desse ciclo”, afirmou.

Este ano, os Dias da Música em Belém fazem parte do ciclo “Hieronymus Bosch - Tirai os Pecados do Mundo”, e a sua “narrativa interna é dada pela obra de Bosch que se encaixa no ciclo”.

A proposta “é mascarar todo o CCB, numa espécie de Inferno/Purgatório/Paraíso, e decidimos organizar o festival em forma de tríptico, mas deparámo-nos com uma rasteira, uma quarta parte, que é a portada que fecha o tríptico, ‘A Criação do Mundo – O Paraíso’”.

Essa portada abre os Dias da Música, ao servir de inspiração para o concerto de abertura, a oratória “A Criação”, de Joseph Haydn, sob a direção de Pedro Carneiro, pela Orquestra de Câmara Portuguesa, o coro Voces Caelestes e os solistas Wolfgang Holzmair, Ana Quintans, Carla Caramujo, Thomas Michael Allen e Peter Kellner.

Seguindo esta lógica programática, houve o interesse de associar a trilogia das barcas de Gil Vicente aos Dias da Música em Belém, um projeto concebido pela atriz Sara Barros Leitão, com música de Fernando Lapa, com a apresentação de um auto em cada dia, sempre na sala Almada Negreiros, do CCB.

No dia 28, é apresentado o “Auto da Barca do Inferno”, no dia seguinte, “Auto da Barca do Purgatório” e, a encerrar, o “Auto da Barca da Glória”.

Seguindo a ordem proposta pelo tríptico de Bosch - Inferno/Purgatório/Paraíso –, depois da abertura com a criação do mundo, o tema da respetiva portada, o segundo dia é dedicado ao “inferno e aos castigos”.

Da programação consta a ópera “A Danação de Fausto”, Berlioz, sob a direção de Frédéric Chaslin, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, “com reforços”, como disse Cunha Leal, dos Pequenos Cantores do Conservatório de Lisboa, do Coro Juvenil de Lisboa e dos solistas Aquiles Machado, Philippe Rouillon, Béatrice Uria-Monzon e Arnaud Rouillon.

O segundo dia, 28, é dedicado aos “pecados e tentações terrenas”, e da programação consta, entre outros concertos, “Jogos de sedução”, sob a direção de Bruno Borralhinho, pela Orquestra de Câmara Alemã, que apresenta a suite para orquestra de cordas e percussão “Carmen”, de Rodion Scherdrin, a partir da ópera homónima de Bizet.

Do cartaz do dia 28 fazem ainda parte “Os Sete Pecados Mortais”, de Kurt Weill, pela Orquestra Clássica do Sul, dirigida por Rui Pinheiro, com os solistas Ana Maria Pinto, Bruno Almeida, Mário João Alves, Diogo Oliveira e Christian Luján, e a ópera cómica “Gianni Schicchi”, de Puccini, num projeto sob a direção de Borralhinho, que junta as orquestras de câmara alemã e portuguesa, e vários solistas, entre eles, José Fardilha, como Schicchi.

A oratória “Caim ou o primeiro homicídio”, de Alessandro Scarlatti, pelo Ludovice Ensemble, dirigido por Fernando Miguel Jalôto é outra "grande obra" do segundo dia.

No domingo, 29 de abril, último dos Dias da Música deste ano, “vamos tentar fazer as pazes com nós próprios”. É o dia respeitante ao painel da direita do tríptico de Bosch, “as graças divinas e a reconquista do paraíso”, e que abre com a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Ton Koopman, que vai interpretar “Les Élemens: Le Chaos”, de Jean-Féry Rebel, a Sinfonia nº. 49, de Haydn, e a suite de “Les Indes Galantes”, de Jean-Philippe Rameau.

Do programa de domingo consta ainda a Sinfonia "Dante", de Liszt, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat, sob a batuta do maestro Pedro Amaral, Cantatas de Bach, pelo grupo Avres Serva, sob a direção de Nuno Oliveira, e a interpretação de “Das Paradies und die Pie” ("O Paraíso e a Perie"), de Schumann, pelo Coro Gulbenkian e a Orquestra XXI, entre outras obras.