As autoridades da Argélia decretaram a prisão preventiva do escritor franco-argelino Boualem Sansal, de 75 anos, por acusações ligadas à segurança nacional, informou na terça-feira o seu advogado francês.

Sansal foi preso com base num artigo do código penal argelino "que pune todos os ataques contra a segurança do Estado", disse François Zimeray à agência France-Presse.

Segundo meios de comunicação, o escritor foi detido no último sábado, no aeroporto de Argel, após regressar da França. O seu advogado informou que foi interrogado por procuradores "antiterrorismo".

A agência de notícias governamental argelina APS também reportou a detenção do escritor no aeroporto de Argel, mas não divulgou a data em que ela ocorreu, que terá sido a 16 de novembro.

A ausência de notícias após o seu desaparecimento suscitou a preocupação de várias figuras da sociedade francesa, incluindo o Presidente Emmanuel Macron.

Figura de destaque da literatura moderna francófona, Sansal é conhecido pelas suas posturas firmes contra o autoritarismo e o islamismo, e pela sua defesa da liberdade de expressão. Personagem polémico na Argélia, começou a escrever romances em 1999, e abordou temas como a guerra civil dos anos 1990 entre as autoridades argelinas e os islamistas.

A sua rejeição do islamismo não se limitou ao seu país. Sansal também alertou para uma islamização progressiva na França.

Em 2015, ganhou o Grande Prémio de Romances da Academia Francesa por "2084. O Fim do Mundo" (Quetzal Editores), uma obra distópica, inspirada em "1984", de George Orwell, na qual denuncia a ameaça que o radicalismo religioso representa para as democracias, imaginando o islamismo no poder.

Esta postura fez dele o autor favorito de figuras proeminentes da direita e da extrema-direita, algumas das quais juntaram-se à preocupação de Macron pelo escritor.

A prisão do escritor ocorre num contexto diplomático tenso entre a França e a Argélia, após o presidente francês renovar, no mês passado, o apoio do seu país à soberania marroquina sobre o Saara Ocidental. A maior parte dessa ex-colónia espanhola é controlada de facto por Marrocos, mas os separatistas da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, pedem um referendo de autodeterminação.