O professor de Literatura e Escrita Criativa do Rio de Janeiro, cujos avós eram oriundos dos distritos portugueses de Viana do Castelo e Vila Real, tem já 26 livros publicados no seu país e irá estrear-se em Portugal com "Não viajarei por nenhuma Espanha", após vencer o prémio instituído pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, em parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"O novo livro vai ter muitos poemas metrificados e rimas, e apresenta um tipo de poesia que eu não sei se ainda se usa cá em Portugal. Sei é que, no Brasil, eu não estaria na moda", diz Marcus Vinicius Quiroga, em entrevista à Lusa.

Aposentado após vários anos de docência universitária nas áreas da Literatura e Cultura Portuguesas e coordenando atualmente oficinas de escrita criativa, o autor lusodescendente diz-se um leitor assíduo da escrita criada em Portugal, mas assume mais facilidades no acesso à prosa do que à poesia.

"A literatura portuguesa faz parte do nosso repertório educativo e o primeiro livro que eu adquiri foi a obra completa de Fernando Pessoa. Mas hoje, curiosamente, leio mais prosa contemporânea portuguesa, como a de José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares e Valter Hugo Mãe", refere.

Marcus Vinicius Quiroga segue também ensaístas como Carlos Reis, o especialista em estudos queirosianos que presidiu ao júri de seleção do Prémio Literário Ferreira de Castro, e, nesse contexto, confessa: "Eu era leitor do Carlos Reis, aprendi Literatura Portuguesa com ele e conhecê-lo agora na entrega do prémio - ver que o autor existe mesmo - foi outra felicidade".

O escritor brasileiro admite, contudo, desconhecimento total quanto à poesia portuguesa contemporânea. "Não há poetas portugueses no Brasil. Acredito que haja quem esteja escrevendo poemas, mas a realidade é que esses livros não são editados no Brasil, não chegam às nossas livrarias", afirma.

O livro "Não viajarei por nenhuma Espanha" reúne uma série de textos explorando a temática da cultura ibérica e distinguiu-se entre os cerca de 70 candidatos ao Prémio Literário Ferreira de Castro, pelo que o júri definiu como a particular sensibilidade expressa na "unidade temática e estilística" dessa abordagem.

Marcus Vinicius Quiroga vai dedicar essa obra aos seus avós portugueses, a título póstumo, e defende que, ao debruçar-se sobre a cultura ibérica, "o livro fala por extensão do Brasil, tendo, por isso, um significado especial enquanto testemunho do caminho partilhado por várias gerações" da sua família.

"Um brasileiro não vem a Portugal - ele retorna a Portugal. É difícil saber onde realmente termina um país e começa o outro, e, sobretudo no caso dos descendentes de emigrantes, eles não sabem bem o que fazer com todas essas referências", defende.

Um dos trabalhos de Marcus Vinicius Quiroga recentemente premiado no Brasil foi o poema "Inventário". Entre várias estrofes sobre memórias de infância do autor, o lusodescendente revela: "Penso no pai sempre com uma pasta / de desatenções na mão. / Esqueceu os afetos trancados / em alguma gaveta do escritório. / Tinha pressa de chegar a algum lugar, / embora ele não soubesse nomeá-lo. / Será que sou sua continuidade / ou o seu contrário?".