Publicado pela primeira vez em 1957, cerca de seis anos após a estreia literária de Fernanda Botelho, feita com a poesia de "Coordenadas Líricas" (1951), "O Ângulo Raso" marca a entrada da escritora no universo do romance. Está esgotado há anos, e vai regressar às livrarias pela Abysmo, editora responsável pela reedição das suas obras, disse Joana Botelho, presidente da Associação Gritos da Minha Dança, que gere o espólio.

A nova edição de "O Ângulo Raso" vai contar com o prefácio da professora Paula Morão, que coordena o estudo da obra de Fernanda Botelho, no âmbito do projeto "Textualidades" do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).

Para 2022, está prevista a primeira publicação de uma antologia de crónicas.

"O que vai ser inédita é a antologia das crónicas que estão dispersas pela imprensa e que, se não forem reunidas numa seleção, ficam perdidas", explicou em 2020 à Lusa Paula Morão, sublinhando tratar-se de "crónicas de grande qualidade".

As obras de Fernanda Botelho - que tiveram novas edições pela antiga Contexto, na década de 1980, depois da publicação de "Esta Noite Sonhei com Brueghel", e depois pela Presença, nos anos de 1990/2000, que publicou "Dramaticamente Vestida de Negro" e "As Contadoras de Histórias" - estão esgotadas praticamente desde os primeiros anos 2000, e têm vindo a ser resgatadas pela Abysmo.

A neta da escritora adiantou que a intenção é, a partir deste ano, começar a reeditá-las por ordem cronológica, o que não aconteceu com as anteriores.

Para a investigadora, "é importante ler Fernanda Botelho", não só pela "visão crítica e ácida", ao fazer o "retrato social da época que representa desde os anos 50 do século XX, seguindo a tradição da literatura realista, do século XIX", como também pelos "processos narrativos de alto nível, que permite ver o interior das personagens".

No domingo, começa a 1.ª Semana das Artes dedicada a Fernanda Botelho, no Cadaval, concelho do distrito de Lisboa onde a escritora residiu nos seus últimos anos, e para onde existe um projeto de transformar a sua residência em casa-museu.

A Semana das Artes, organizada em cooperação com o município, e dirigida sobretudo às escolas, é composta pela exposição "Coordenadas de Lugar Íntimo", com cerca de uma centena de trabalhos de expressão plástica desenvolvidos por alunos das escolas do concelho.

A mostra é inaugurada no domingo, na Biblioteca Municipal, onde vai estar patente até 11 de junho, recebendo visitas presenciais, mediante marcação prévia, ou virtuais, para as quais estão a ser espalhados autocolantes pelo concelho que dão acesso a um código que, ao ser lido através de telemóvel, permite ver vídeos da exposição.

Para os dias 11 e 12, está prevista uma oficina de escrita criativa por Sofia Andrade, especialista em literatura comparada e estudiosa da obra de Fernanda Botelho.

O programa continua no dia 12, com uma formação de dança por Beatriz Guedes, e, no dia 13, com uma oficina de teatro por Inês Lapa Lopes.

Entre os dias 11 e 14, vai ser pintado um mural pelo artista João Olivença e por Ana Hermenegildo, no âmbito de uma oficina de design.

No dia 22, realiza-se uma visita à casa da escritora, guiada pelas especialistas Paula Morão e Sofia Andrade.

Fernanda Botelho, que se estreou como poetisa, em "Coordenadas Líricas", distinguiu-se, porém, como romancista.

Nasceu no Porto, em 1926, e morreu em Lisboa, em 2007, tendo deixado uma obra extensa que lhe valeu vários prémios ao longo de mais de meio século de carreira.

Entre eles, destacam-se o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Camilo Castelo Branco, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários e o Prémio PEN Clube Português de Ficção.

Estudou Filologia Clássica nas Universidades de Coimbra e Lisboa, cidade onde se fixou.

Pertenceu ao grupo de fundadores da revista Távola Redonda, que reuniu escritores como David Mourão-Ferreira, Ruy Cinatti e Alberto de Lacerda.

Traduziu autores como Natalie Sarraute, J.M.G. Le Clézio, Nina Berberova, Hervé Bazin, Michel Tournier, Max Frisch, Stendhal, Dante.

"Xerazade e os Outros", "A Gata e a Fábula", "Lourenço É Nome de Jogral", "Calendário Privado", "O Enigma das Sete Alíneas", "Festa em Casa de Flores" são outros títulos de uma obra que teve em "Gritos da Minha Dança", o último livro publicado em vida da escritora.

Em 1989, recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.

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