"Eu nunca sei o que escrever a seguir. É como se cada livro fosse o primeiro, e escrever uma série deles não me facilita nada", disse Teolinda Gersão, na Quinta das Lágrimas, durante uma conversa com a professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Cristina Robalo Cordeiro, iniciativa integrada no Encontro Literário "Cidades Invisíveis", que na sua primeira edição homenageia a autora de "A Casa da Cabeça de Cavalo".
A escritora admitiu que não gosta de "ter um certo formato que para o leitor já corresponde a um horizonte de expectativa", e que o facto de não saber como será o livro é, para si, "um prazer".
"Eu não sei, quando começo um livro, para onde ele me vai parar. Vou descobrindo à medida que vou escrevendo. Escrevo sem rede e escrevo como se cada livro fosse o primeiro", reafirmou.
Antes de lhe dar forma, a ideia anda na sua cabeça durante algum tempo.
"Não me preocupo nada se o livro vai ser bom ou não. Se não for bom, não o publico", notou.
Para a escritora, que nasceu em Coimbra, mas que tomou Lisboa como a sua cidade, "tudo o que se aprende em teoria não serve de nada para a escrita".
"Nem acredito nada nessas aulas de escrita criativa. Na América, isso funciona muito, mas o que está a acontecer é que os autores americanos seguem o mesmo padrão. Eu leio os livros, leio com interesse até porque deixam a coisa em suspenso para continuar depois, mas depois não me lembro de nada. Isto contava que história? Não me lembro. São todos muito parecidos e um bocado incaracterísticos. Ainda sou fiel à geração dos antigos, do Hemingway, do Scott Fitzgerald, do Faulkner, que tinham uma personalidade tão forte que os livros deles só poderiam ser escritos por eles", contou.
Quando questionada por Cristina Robalo Cordeiro sobre se era a favor do novo acordo ortográfico, a escritora frisou que é "completamente contra".
"Nós temos toda uma cultura latina atrás de nós. Os alemães foram colonizados pelos romanos e mantêm as ruínas romanas com orgulho. Os ingleses dizem 'action', 'actor' e não há nenhuma razão lógica para tirarmos as consoantes mudas. Quando entramos num hotel lemos 'receção', mas pode ser 'recessão económica'", apontou.
Para a escritora, o novo acordo "é demasiado estúpido" para ser aceite e empobrece a Língua.
"Foi imposto nas nossas costas e os governos não são hábeis em coisas de cultura. Foi uma ideia infeliz. O Brasil está-se nas tintas para o acordo ortográfico, Angola nunca aceitou e escreve um português corretíssimo, Cabo Verde também não. Foi uma coisa incompreensível de meia dúzia de linguistas que resolveram fazer isso pensando que isso ia lançar a nossa Língua como uma língua muitíssimo mais lida. Não aconteceu e só criou caos", referiu.
A primeira edição do Encontro Literário Internacional - Cidades Invisíveis começou na quarta-feira e estende-se até sábado.
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