O espetáculo pretende transmitir "a alma do Alentejo" através de cantos como "Não quero que vás à monda" ou "É tão grande o Alentejo" e de uma "tourada simbólica", disse à Lusa o encenador, Carlos Balbino.

"Cantamos mais sobre a vida do Alentejo e as músicas mais emblemáticas porque é a alma do Alentejo que nós estamos a apresentar através da tourada, porque a tourada, finalmente, nunca a chegamos a ver. Vemos é a vida à volta da tourada, mas sempre com um olhar alentejano que é um olhar um bocado específico", explicou o também ator e cantor.

Carlos Balbino descreveu que "a peça começa no dia fictício da destruição da arena de Beja e vai recuando até ao dia da última tourada", numa "viagem através das experiências e das memórias de alguns membros do grupo e alguns membros do público" em que o cante alentejano vai mostrando "o estilo de vida das pessoas".

"É uma tourada simbólica para representar a passagem do tempo antigo, desta tradição antiga, aos tempos modernos em que a sociedade vai-se adaptando aos novos costumes e vai ganhando uma outra sensibilidade também em relação à sua própria história", continuou o encenador.

Carlos Balbino, que foi para Paris em 2011 para terminar os estudos de teatro na École International de Théâtre de Jacques Le Coq, quis levar ao palco o cante alentejano e o tema das touradas depois de o primeiro espetáculo da companhia, "L'Architecte des Rêves", em 2013, ter recorrido ao canto polifónico russo numa peça sobre a sociedade russa durante a construção dos Jogos Olímpicos de Inverno.

"A Última Tourada" foi escrita pelo francês Xan Reinosa, a partir da ideia do encenador português que se inspirou na demolição da arena de Cascais, onde viveu, porque, "mesmo não sendo um aficionado de touradas, foi duro assistir à destruição de um edifício simbólico".

"Acho que, até hoje, ainda não foi escrita nenhuma peça sobre as touradas ou sobre os forcados. Esta peça é escrita partindo da nossa sociedade moderna, no estado crítico em que se situam as touradas, em que esta tradição pode desaparecer de um dia para o outro e é daí que vem a sua originalidade", acrescentou.

Em palco, há apenas três atores-cantores, Carlos Balbino, Aline Boucraut e Clémentine Savine, que falam em francês e cantam em português, fazendo "um teatro mais do imaginário, mais físico" e uma "recriação do canto alentejano".

A fase da criação musical da peça deu origem à criação de um grupo coral de cante alentejano, com 12 pessoas de várias nacionalidades, que atuaram na primeira parte da atuação de Kátia Guerreiro e de Ricardo Ribeiro no Festival des Villes des Musiques du Monde em 2016, em Aubervilliers, perto de Paris.

"Nós só temos dois portugueses no grupo, depois temos um terceiro que é lusodescendente, depois temos franceses, alemães, italianos. Isto é que é engraçado, é meter esta gente toda a cantar em português estas melodias polifónicas e, aí, eles também começam a ganhar interesse à cultura tradicional da região de onde eles vêm", explicou o também diretor musical do grupo.

A companhia de teatro quer levar "A Última Tourada" a Portugal e "dar a volta a França", enquanto o grupo de cante alentejano vai ser acompanhado, nos próximos 10 dias, em atuações "em frente ao Sacré Coeur, à Torre Eiffel" para a criação de um documentário do realizador Tiago Pereira, fundador do projeto "A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria" que, desde 2011, se tem dedicado à recolha e gravação de música popular e tradicional em Portugal.

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