O prestigiado Museu Nacional Britânico de Arte Moderna inaugura, numa exposição aberta ao público a partir desta quinta-feira e que se prolonga até 1 de setembro, uma retrospetiva da artista multidisciplinar japonesa, que celebra 91 anos no próximo domingo.

Sob o tema "Music of the mind" (Música da mente, em tradução livre), o museu exibe obras de áreas diversas da mulher mais conhecida por ser mulher do membro falecido dos Beatles do que como um dos símbolos da arte conceptual.

"Esta exposição é uma celebração de Yoko como artista. É verdade que John Lennon foi um colaborador muito importante para ela, mas estamos muito felizes de poder mostrar a sua arte", disse à AFP um dos curadores da exposição, Andrew de Brun.

200 obras

Em 200 obras, o museu oferece um retrato da artista entre instalações, objetos, vídeos, fotografias, esculturas, documentos sobre as suas performances, música e ações realizadas ao longo de sete décadas.

"Reconhecemos a importância de Yoko Ono na arte e cultura contemporâneas. Ao exibir algumas das suas obras, ajudamos a mostrar o lugar importante que ela ocupa", explicou De Brun acerca da maior retrospetiva já realizada sobre a artista no Reino Unido.

O curador destacou que um dos objetivos da mostra é "poder apresentar o seu trabalho, as suas campanhas pela paz aos visitantes das novas gerações".

Music of the mind

Desde a década de 1950, com suas primeiras exposições em Nova Iorque, Yoko Ono aderiu ao conceptualismo, corrente que defende que as ideias por trás de uma obra têm mais peso do que o trabalho em si, dando mais destaque ao significado atribuído pelo artista.

Com as suas performances e instalações, a vanguardista convidou o espectador a ter um papel ativo na obra.

A exposição inclui algumas das suas criações mais polémicas, como o vídeo que mostra a sua atuação em "Cut Piece" (1964/1965), trabalho que apresentou primeiro no Japão e posteriormente em Nova Iorque

No cenário, Ono aparece envolta num vestido preto e com uma tesoura a seu lado, para que o público pudesse cortar as suas roupas, uma forma na qual a artista procurou chamar a atenção para a violência contra as mulheres exercida pela sociedade.

A exposição surge como uma justificação da longa carreira da japonesa, após décadas a ter sido apontada por alguns como a culpada pela dissolução dos Beatles em 1970.

Encontro com Lennon

Yoko Ono e John Lennon conheceram-se em 1966, em Londres, quando a artista integrava o grupo Fluxus, movimento nascido em Nova Iorque que reunia artistas conceptuais e de vanguarda naquela cidade americana onde morava desde criança, depois de a sua família ter deixado Tóquio.

Music of the mind

As suas instalações de arte conceptual na Indica Gallery de Londres cativaram Lennon. Na altura, foi realizada uma obra chamada 'Ceiling painting", na qual o visitante era convidado a subir uma escada e olhar para uma palavra que aparecia acima através de uma lupa.

A palavra era "Sim". Lennon subiu a escada e ficou maravilhado com aquele trabalho.

Com esta obra, agora exposta em Londres, Ono quis representar a esperança a partir de um lugar de dor. Em relação à altura, a artista procurava comparar a dificuldade de alcançá-la à altura de uma catedral.

Este encontro marcou o início de um casal que se manteve junto até à morte de Lennon, assassinado em 1980 em Nova Iorque, quando tinha apenas 40 anos.

Durante o período em que estiveram juntos, além de lançarem seis discos, criaram em equipa gravações musicais experimentais, curtas-metragens, performances e instalações.

Com o marido, a artista japonesa alcançou sucesso na música, percurso também incluído na exposição londrina.

Em 1980, "Double Fantasy", gravado antes da morte do ex-Beatle, ganhou o Grammy de Melhor Álbum do Ano.