Esta é a opinião de duas investigadoras académicas, Felisbela Lopes e Estrela Serrano, que falaram à Lusa por ocasião dos 25 anos da atribuição das licenças de televisão a privados.

A 6 de fevereiro de 1992, por resolução do Conselho de Ministros, sob a liderança de Aníbal Cavaco Silva, eram concedidas as licenças à SIC e à TVI, terminando com o monopólio da RTP.

A entrada dos privados representou "uma revolução do panorama audiovisual português", já que "não tínhamos qualquer concorrência", afirmou Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho.

"A SIC e a TVI promoveram uma alteração significativa da informação e do entretenimento", acrescentou, recordando que, na altura, um dos concorrentes ficou pelo caminho - o projeto liderado por Proença de Carvalho.

Já Estrela Serrano, investigadora, que foi membro do Conselho Regulador dos media (ERC) e que pertence atualmente ao Conselho de Opinião da RTP, recorda que acompanhou a fase de lançamento das licenças quando era assessora do antigo chefe de Estado Mário Soares.

"Foi interessante ver as mudanças, ver o serviço público a adaptar-se em função dessa mudança", afirmou.

"As televisões privadas foram um bem grande para a informação geral, fez a RTP rejuvenescer e descolar do poder", acrescentou Estrela Serrano, salientando que "a concorrência é sempre estimulante, mas tem aspetos muito perversos que no caso das televisões é ter audiências, o que resulta na ‘tabloidização’ da informação", o que levou a mudanças no setor.

Sobre o impacto das televisões privadas nos media em Portugal, Estrela Serrano destaca o "papel importante da TVI na ficção portuguesa", enquanto a "SIC inovou bastante” na informação.

Para Felisbela Lopes, "a SIC teve um modelo mais eficaz e agressivo em relação à informação", afirmando-se como contrapoder.

A investigadora destaca o programa "Praça Pública", da SIC, que "foi uma pedrada no charco" na altura, já que "colocou no ecrã as fontes não oficiais, o cidadão comum", o que representou uma inovação.

Também salientou inovações no campo do futebol, com o programa "Donos da Bola", “que atualmente é uma âncora dos canais de televisão" que abordam este tema.

No entretenimento, a SIC teve até 1994 "uma gestão particular das novelas da Globo e inovou a nível de 'reality show'" com os programas "Perdoa-me" ou "Ponto de Encontro".

Já a TVI, "até 1998 foi muito instável e trocou várias vezes de capital", recordou Felisbela Lopes, adiantando que após aquele período encontrou "a estabilidade", José Eduardo Moniz é contratado e a "consolidação surge em setembro de 2000, com o aparecimento do ‘reality show’ Big Brother'".

No início, a TVI "era da Igreja e tinha uma linha editorial particular que se veio a provar que não vingou na aplicação do modelo da Rádio Renascença em televisão".

Volvido um quarto de século após a entrada dos privados, a televisão em Portugal deixou de inovar, segundo as investigadoras.

Atualmente, "a televisão em Portugal padece de uma enorme dificuldade em inovar porque tem medo de perder audiência. O maior desafio da televisão é ter ousadia de arriscar", considerou Felisbela Lopes.

"A SIC conseguiu implementar-se porque não tinha nada a perder", disse. Já a TVI, "quando estava no fundo e José Eduardo Moniz entrou [na televisão], [também] podia fazer tudo".

Ou seja, "a circunstância de não ter nada a perder proporcionou à SIC e à TVI um grande passo de inovação até à liderança", considerou Felisbela Lopes.

Mas, agora, "estamos num período em que nada acontece", apontou, referindo que se a televisão em 1995 foi "muito diferente" da televisão em 2005, tal não acontece com as grelhas entre 2007 e 2017.

"Quem ousar alterar pode beneficiar", afirmou Felisbela Lopes, que considerou que atualmente "quem tem mais espaço para o fazer é o canal público", embora este seja “híper escrutinado", ou seja, a RTP "tem muitas instâncias de reguladores, que podem ser vistos como benéficas, mas também como 'colete de forças'".

Questionada sobre se o número de canais generalistas é suficiente em Portugal, Felisbela Lopes foi perentória: "Para o estado da economia e do país são suficientes".

No entanto, "deveria ser mais diversificado. Não precisamos de mais canais generalistas, precisamos de diversificação de conteúdos", concluiu.

Na mesma linha, Estrela Serrano afirma que "há um mimetismo das agendas, a televisão continua a ser o meio por excelência, a informação repete-se muito, há muito pouca diversidade".

"Este aniversário poderia servir para um debate, reflexão" sobre o setor, disse Estrela Serrano, que, quando questionada sobre se os quatro canais generalistas são suficientes, afirmou: "São muitos canais para fazer o mesmo, mas são de menos para fazer diferente e melhor".

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