“Quién mató a Narciso?”, do paraguaio Marcelo Martinessi, com produção do Paraguai, da Alemanha, de França, do Uruguai, e da portuguesa Oublaum Filmes, de Ico Costa, é um de dois projetos com recomendação de financiamento dentro do setor europeu do Fundo de Cinema Mundial (WCF, na sigla inglesa) da Berlinale, no valor de 60 mil euros.

O filme aborda a história de Narciso Arévalos, apresentador de um programa radiofónico de rock’n’roll, que aparece morto, queimado, nu e amarrado à cama, na capital do Paraguai, em 1959, nos primeiros anos da mais longa ditadura da América do Sul, que teve fim em 1989.

Martinessi baseou o filme num livro intitulado “Narciso”, de Guido Rodríguez Alcalá, e decidiu adotar um estilo ‘noir’ para a realização, como o próprio indicou num texto publicado pela produtora paraguaia La Babosa Cine.

“Como não sobrevivem arquivos fílmicos desse anos no Paraguai, as poucas imagens e imprensa disponível servem de guia para ‘recriar’ uma cidade que tinha um ‘glamour’ europeu a desvanecer, misturado com um lado exótico nativo”, escreveu Martinessi.

A outra coprodução portuguesa com recomendação de financiamento por parte do WCF insere-se na secção de África do fundo e intitula-se “Testament”, de Zippy Kimundu e Meena Nanji, do Quénia, tendo coprodução do Quénia, da Alemanha, do Ugana, e da luso-brasileira Muiraquitã Filmes, de Eliane Ferreira. O valor do financiamento proposto é de 30 mil euros.

O filme, que já contou com apoio do fundo da Associação Internacional de Documentário (IDA, na sigla inglesa), conta a história da procura, por uma queniana, Wanjugu Kimathi, dos restos mortais do seu pai, que se “torna numa investigação sobre as atrocidades coloniais britânicas, incluindo campos de concentração e roubo de terras”, segundo a informação disponível na página da IDA.

“À medida que a sua missão pessoal se expande, ela transforma-se numa poderosa defensora da justiça e da reatribuição de terras àqueles que foram espoliados, expondo segredos coloniais”, acrescenta o mesmo texto.

O WCF da Berlinale procura apoiar “cinema independente, de forma ainda mais aprofundada numa altura de crise, e promover a visibilidade da complexidade cultural do mundo”.