“Vou apresentar músicas diferentes, e não apenas as do álbum [homónimo, saído em 2013]. Eu e a minha equipa [os músicos] achamos que é tempo de fazermos músicas diferentes. Ano novo é altura de dar um passo em frente”, afirmou a fadista que, no ano passado, recebeu o Prémio José Afonso.

Nos dois palcos, Gisela João, natural de Barcelos, é acompanhada à guitarra portuguesa por Ricardo Parreira, à viola, por Nelson Aleixo e, à viola baixo, por Francisco Gaspar.

Para os dois espetáculos, agendados para as 21:30, Gisela João exige pontualidade. “À hora, antes de começar a cantar, vou pedir para fecharem as portas e não entra mais ninguém”, advertiu. Sobre os espetáculos, adiantou: “Vou cantar sobre a minha vida e o convidado especial é o público”.

“Como apareci há pouco tempo, e gosto que as pessoas se afirmem pelo seu trabalho, pelo mérito e como até agora sempre gostei de me afirmar a mim própria - não porque sou muito ‘boazona’, toda gira ou a mais velha de sete irmãos... as pessoas gostam sempre de histórias de coitadinhos... -, quero que me conheçam só por mim, pelo meu trabalho e, nestes concertos, quero manter esta postura. Daí não ter convidado ninguém. Não quero que o público vá aos concertos por estar lá alguém com um nome sonante. Quero que vá por mim”, declarou.

A fadista só reconhece como álbum, o homónimo, editado em 2013, no qual, a par de inéditos como “(A casa da) Mariquinhas”, interpreta temas dos repertórios de Amália Rodrigues, Carlos Ramos e Flora Pereira, entre outros.

“O [álbum] ‘Gisela João’ é que é o primeiro disco, pois foi pensado como tal”, disse a fadista, que rejeitou “conceitos e intelectualidades”. “Não sou muito de conversas intelectuais, gosto de cantar, tenho a minha vida e gosto de cantar, e canto os poemas consoante a vida que eu tive. A Amália, a senhora dona Amália cantava consoante a vida que tinha, a Maria Teresa de Noronha é igual”, argumentou.

Gisela João sublinhou que gosta de ser intérprete e não a preocupa o facto de cantar temas criados por outros fadistas. “Gosto muito de ser intérprete, não me incomoda nada ter ou não inéditos, gosto muito que tragam coisas do passado e que me façam a mim, que tenho 31 anos, saber que existiram aquelas coisas”, disse.

A fadista reconhece “a rapidez” com que se impôs no meio fadista, e afirmou que tal se deve “ao trabalho, muito e muito trabalho”. “Não me posso sentar à sombra da bananeira e defraudar expectativas que colocaram em mim. A vida não é feita assim, não é ganha assim, muito menos quando as pessoas depositam confiança em nós e no nosso trabalho. Eu trabalho muito, mas faço com muito prazer”, frisou.

“Hoje em dia, de bestial a besta, passa-se num instante. É preciso ter os pés no chão e trabalhar e trabalhar”, acrescentou a fadista, de quem, no ano passado, a revista Blitz publicou um disco com gravações de concertos, intitulado “Sem filtro”.

Gisela João, que vivia no Porto antes de se radicar em Lisboa, onde começou a cantar na casa de fados Senhor Vinho, disse à Lusa que nunca imaginou “que, em tão pouco tempo, desse uma volta tão grande à [sua] vida”.

Quanto ao próximo álbum, a fadista afirmou que “nada sabe ainda”, pois não pensou em nada, nem tem qualquer data de entrada em estúdio.

@Lusa