Pelo sexto ano consecutivo, o Palacete de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, acolherá um conjunto de 48 obras de arte contemporânea portuguesa que terá entrada livre ao público, no primeiro domingo de cada mês.
Na edição deste ano, foi feita uma seleção de 15 artistas, entre as cerca de 500 obras de artistas portugueses e estrangeiros do colecionador Pedro Álvares Ribeiro, cuja coleção foi iniciada na década de 1980.
“Esta coleção, como todas, tem a sua identidade, e aqui há a particularidade de existir um número mais reduzido de artistas em cerca de 40 anos de colecionismo”, apontou o curador da exposição, João Silvério, durante uma visita guiada aos jornalistas à residência oficial, onde as obras estão agora instaladas.
O perfil da coleção divide-se em metade de artistas portugueses e estrangeiros, mas como a iniciativa “Arte em São Bento” se destina a promover a arte contemporânea portuguesa, a curadoria “teve como foco principal olhar para estes artistas que são centrais na prática do colecionador, mas também nas cumplicidades, na proximidade com os artistas, de visitas de ateliê, que foi fazendo logo no início”.
A obra mais antiga é uma fotografia de Paulo Nozolino, intitulada “Lisboa”, de 1979, e a mais recente é de Francisco Tropa, de 2018, uma instalação intitulada “A Maçã”, e encontram-se em duas salas do piso térreo da residência.
Este arco temporal “dá uma perspetiva histórica que vai quase ao período em que a arte em Portugal e a sociedade começam a ter mais estabilidade, vivendo em democracia”, salientou o curador.
João Silvério destacou ainda que a coleção “tem relativamente poucos artistas, mas uma concentração de obras por artista bastante grande, nalguns casos acompanhando 30 anos de trabalho, em núcleos que chegam a ter mais de 40 obras”.
Nesta seleção para a exposição, destacam-se os artistas Ana Jotta, representada por dez obras, seguindo-se José Pedro Croft, com oito obras, e Paulo Nozolino a par do escultor Rui Chafes, com cinco cada um.
O curador apontou ainda que três artistas se estreiam este ano na edição “Arte em São Bento”, sendo eles Nozolino, Pedro Portugal e Gerardo Burmester.
Foram também selecionadas obras de Ângela Ferreira, Augusto Alves da Silva, Jorge Molder, Julião Sarmento, Pedro Calapez, Pedro Casqueiro e Rui Sanches, com predomínio da escultura, mas estão igualmente representados os suportes de desenho e pintura.
João Silvério comentou que a disposição das obras neste espaço foi “desafiante”, e “negociada entre as várias sensibilidades, com o colecionador e quem habita o espaço, que é uma casa, e não um museu”, portanto exigiu uma adequação própria de relacionamento com o mobiliário e o uso.
Na construção do percurso, foram também criadas relações entre as obras, que se “projetam no espaço como um corpo próprio, além da mensagem que transportam, e da interpretação que possam ter”.
Uma fotografia de Augusto Alves da Silva da série “CNB” (Companhia Nacional de Bailado), de 2001, duas esculturas de Ana Jotta, intituladas “Le Pére” e “La Mére”, de 2006, a obra “complexa” de pintura e escultura de Pedro Portugal, de 1989, “BPA”, que faz lembrar o colapso do antigo banco privado (Banco Português do Atlântico), e as esculturas “Cura para as tuas feridas” I e IV, de Rui Chafes, de 2000, são algumas das peças que os visitantes vão encontrar no percurso de dois pisos pelo palacete.
Por outro lado, o curador referiu que a coleção privada levou à concretização de outro projeto, em 2019, a Casa São Roque – Centro de Arte, no Porto, onde realiza exposições com núcleos mais alargados do trabalho dos artistas que representam o gosto e interesse do colecionador.
As obras da coleção estão em depósito no Museu de Serralves, no Porto, no Museo Reina Sofia, em Madrid, e no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), entre outras instituições.
A Residência Oficial do Primeiro-Ministro, no Palacete de São Bento, acolhe, todos os anos, uma seleção de obras de artistas portugueses pertencentes a uma coleção de arte contemporânea, numa iniciativa criada em 2017 com o intuito de "afirmar a vitalidade da criação artística nacional e projetar a imagem de um país inovador", segundo um texto da organização.
Nas edições anteriores da Arte em São Bento, a Residência Oficial acolheu a Coleção de Serralves (2017), a Coleção António Cachola/Museu de Arte Contemporânea de Elvas (2018), a Coleção Norlinda e José Lima (2019), a Coleção Figueiredo Ribeiro (2020) e a Coleção AA, de Ana Cristina e António Albertino Santos (2021).
A inauguração da "Arte em São Bento 2022 – Coleção Peter Meeker" está marcada para quarta-feira, dia 5 de outubro, às 14h30, e o programa inclui um recital de piano por Luís Costa, no jardim do Palacete de São Bento, em Lisboa.
As visitas à residência oficial para ver as obras decorrem entre as 15h00 e as 19h00, com entrada livre, e poderão ser realizadas até setembro de 2023, no primeiro domingo de cada mês.
Comentários