O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou na quinta-feira esperar "um desfecho rápido" para que o escritor franco-argelino Boualem Sansal, que pode ser condenado a dez anos de prisão na Argélia, "recupere a liberdade", caso que está a perturbar as relações bilaterais.

"O que aconteceu é muito grave", mas "confio em [Abdelmajid] Tebboune [Presidente argelino] e na sua lucidez para saber que tudo isto não é grave e que se trata de um grande escritor, que aliás está doente", disse o chefe de Estado francês à imprensa no final de uma cimeira europeia em Bruxelas.

O Ministério Público argelino pediu 10 anos de prisão para Boualem Sansal, acusado de atentar contra a integridade territorial da Argélia, noticiou a imprensa local na quinta-feira.

Está prevista para o próximo dia 27 a leitura da sentença do tribunal de Dar El Beida, perto de Argel, para o escritor que foi detido a 16 de novembro quando chegou ao aeroporto da capital, segundo meios de comunicação como Echorouk e TSA.

Com apoio generalizado em França, o caso Sansal tornou-se um foco de discórdia entre Paris e Argel, cujas relações se têm vindo a deteriorar desde que o Presidente francês reconheceu em julho de 2024 um plano de autonomia para o Saara Ocidental, território sob soberania marroquina que Argel rejeita.

De acordo com o diário francês Le Monde, as autoridades argelinas não viram com bons olhos as declarações que o escritor fez em outubro ao meio de comunicação francês Frontières, considerado de extrema-direita.

Sansal defendeu a posição de Marrocos sobre como o seu território tinha sido retalhado durante a colonização francesa em benefício da Argélia.

Sansal enfrenta várias acusações como "minar a unidade nacional, insultar um órgão constituído, práticas suscetíveis de prejudicar a economia nacional e posse de vídeos e publicações que ameaçam a segurança e a estabilidade do país".

Segundo a acusação, o escritor fez comentários que atentaram contra a integridade do território nacional argelino.

A recusa da Argélia em receber os cidadãos argelinos que Paris quer expulsar tornou as relações ainda mais tensas nas últimas semanas.

Um deles, que a França tentou expulsar 14 vezes, cometeu um ataque jihadista na cidade de Mulhouse em fevereiro, no qual morreu um cidadão português.

Num outro diferendo, a Argélia acusou a França na quinta-feira de falta de cooperação após um tribunal francês ter rejeitado a extradição do antigo ministro Abdeslam Bouchouareb, condenado pela justiça argelina em vários processos de corrupção.

"Sem prejuízo de qualquer outro recurso possível, o Governo argelino aproveita esta oportunidade para constatar a total ausência de cooperação do Governo francês no domínio da assistência jurídica mútua, apesar da existência de numerosos instrumentos jurídicos internacionais e bilaterais para o efeito", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado.

Na quarta-feira, a justiça francesa pronunciou-se contra a extradição para a Argélia do antigo ministro da Indústria entre 2014 e 2019, um dos altos funcionários processados na campanha anticorrupção da era do antigo Presidente Abdelaziz Bouteflika.

"No âmbito dos seus esforços para recuperar todas as riquezas que lhe foram retiradas, a Argélia tropeçou sistematicamente e continua a tropeçar num atraso injustificado e inexplicável da parte francesa", censurou Argel.

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Argélia não recebeu resposta "a vinte e cinco cartas rogatórias apresentadas" relativamente a este processo.

"Esta atitude francesa difere da de outros parceiros europeus que cooperam sinceramente, lealmente e sem segundas intenções com as autoridades argelinas nesta questão dos lucros ilícitos, que é extremamente sensível para a Argélia", acrescenta a nota.