O dia começou cedo para aqueles que ansiavam pelo início do concerto. Dezenas de fãs passaram a noite na recém baptizada MEO Arena e não esconderam que, ainda que a espera se adivinhasse longa, tudo acabou por acontecer depressa demais. O quinteto não pode discordar: acabou a noite rendido ao público e prometeu voltar.

De mantas a t-shirts, pulseiras, cartazes, bonecos ou máscaras dos cinco, os fãs mostravam a mais vasta gama de merchandising que se podia imaginar – não fosse esta a maior boyband do mundo. Entre flash mobs, cantorias, gritos e histeria pelo vislumbre de um dos cinco ídolos, – mesmo que ficassem felizes por ver apenas a cabeleireira ou o chefe de segurança – cerca de 18 mil pessoas, entre filhos e pais encheram a arena para um espetáculo repleto de energia.

Mas, antes de Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn subirem ao palco, os ecrãs do pavilhão foram inundados por videoclips de outras estrelas em ascensão da pop britânica: de Olly Murs a Little Mix, as vozes do pavilhão soavam em uníssono – como se de repente o concerto fosse do jovem apresentador do Xtra-Factor ou das vencedores da 8ª temporada do “The X-Factor” britânico. 

Depois da troca de opening act - a primeira parte da digressão foi realizada com a boyband australiana 5 Seconds of Summer – Camryn Magness, a jovem de 13 anos, oriunda de Denver, foi responsável por entreter a audiência enlouquecida antes da chegada das estrelas do momento. Com uma onda visivelmente roqueira, mas um reportório assumidamente pop, a rapariga deixou todos encantados. A jovem, que fisicamente se assemelha em muito a Emily Osment – a atriz que veste a pele de melhor amiga de Miley Cyrus, em Hannah Montana -, tem presença em palco e, ao vivo, soa menos a Everlife e a Katy Perry e mostra assustadoras semelhanças vocais a Haley Williams, vocalista dos Paramore. Toda vestida de preto, entre cabedal, correntes, calças rasgadas ou botas de tropa, a norte-americana não parou de saltar e pedir apoio ao público. Agradeceu a confiança dos rapazes, agradeceu a Lisboa e interpretou uma cover de “Stronger”, de Kelly Clarkson, e uma versão rock de “We Found Love”, a colaboração entre o DJ escocês, Calvin Harris, e Rihanna – que sobe ao palco já amanhã. Apresentou a banda entre gritos estridentes que tornaram inaudível tudo o resto e saiu de cena.

Já sem videoclips e com uma playlist que parecia um pouco aleatória, o público jovem mostrou que não ouve apenas One Direction e juntou-se aos pais para entoar alguns temas de “Grease”. Por todo o lado se erguiam cartazes criativos e desenhos dos cantores. A expressão popular “Faz-me um filho” lia-se em inglês (“Make me a son”) numa enorme faixa no segundo balcão e mais abaixo um trocadilho com o nome do álbum e da digressão dizia “1D, Take us Home” (“1D, levem-nos para casa”).Mas foi a meio de “Dynamite”, de Taio Cruz, que as luzes se apagaram e metade do pavilhão se desfez em lágrimas. Nos ecrãs surgiu o vídeo de introdução da tour que, ainda que todas admitam já ter visto na internet, tem outra magia quando sabem que desta vez o vídeo não vai encravar e eles vão aparecer – mesmo - em carne e osso.

No vídeo, recebemos o convite para uma festa e – ainda que tenhamos braço de homem – ficamos bastante felizes quando Liam Payne nos abre a porta, com um sorriso no rosto, e nos dá um abraço, visivelmente agradado por nos ver. Entre copos, danças e balões passamos ainda por um Louis que se abana e faz crowdsurfing, na nossa direção, cumprimentando-nos sobre as mãos de uma dezena de pessoas. Uma volta sobre nós e damos de cara com o famoso DJ Malik, Zayn que, aparentemente, se encarregou de dar música à festa. Depois de mais umas divisões abrimos uma porta e interrompemos a leitura compenetrada de Harry que, entre algumas dezenas de livros e junto a um prato de dois andares repleto de cupcakes, se assemelha aos milionários das histórias aos quadradinhos: de robe, sentado num cadeirão com um cachimbo. Após sermos surpreendidos por um flash na cara – de uma polaroid – e de alguém vestido de crocodilo, Liam parte uma piñata e Niall já fora da casa, junto à piscina, é abalroado quando se aproxima para nos cumprimentar, acabando por cair dentro de água. Louis junta-se a ele, fazendo uma bomba; Liam, um mortal; Harry, entra de cabeça e Zayn, que não sabe nadar, fica cá fora a segurar uma toalha para secar os rapazes. Mas é Styles que a atira para cima de nós e os cinco aparecem, desta vez, já no palco.

É com prédios nos ecrãs que o quinteto abre o concerto, com a música que baptiza o primeiro álbum, “Up All Night”. Sem coreografia, porque também achamos que não iria dar bom resultado, os rapazes passeiam pelo palco, sussurram entre eles e fazem planos maquiavélicos. Assemelham-se a crianças e brincam, evidenciando a sua cumplicidade. É Horan, Niall Horan – que gostava de vestir a pele de James Bond – que oferece o primeiro solo ao público estendendo o microfone à plateia. No segundo andar do palco, onde está sentado o pianista, depois de sussurros entre Liam e Louis, o primeiro ganha balanço para tentar passar entre as pernas de Tomlinson mas falha redondamente e acaba estendido, entre risos, no meio do chão – e, se ainda não há, não deve faltar muito até aparecer um .gif do momento.

Quando perguntam a Niall o que sente, ele não tem medo de gritar que ama Portugal e entre saltos e danças de duendes, chega-nos “I Would”. Rapidamente, concluímos que é difícil ver nove pessoas em palco. Ainda que o baterista e o pianista se mantenham no mesmo sítio, e os baixistas passeiem, o bicho carpinteiro dos cinco vocalistas dificulta a tarefa de quem tenta assistir e os olhos apressam-se a passar de um momento de inspiração para uma dança falhada ou um gigantesco salto. É entre “Heart Attack” e a primeira balada da noite, “More Than This”, que Niall fala do tempo, do país, da cidade, dos portugueses – e as fãs não deixam de pensar que faltou a referência à comida. Entre piadas privadas, surge um momento que, ainda que possa ser ensaiado, merece uma fotografia: Harry, Liam, Louis e Niall calam-se alinhados no andar debaixo; enquadrando Zayn que, no segundo andar, dá início ao seu solo – a lembrar o “Rei Leão”.
Niall a dançar como um robot, Liam a tentar fazer uma espargata, ou mesmo Liam a dar um beijo a Niall... ou Niall a apalpar o traseiro de Liam enquanto Louis combina uma coreografia: é assim que chegamos e abandonamos “Loved You First”. Os rapazes acrescentam que o ambiente é inacreditável (“Crazy to believe”) e dizem obrigado em português. Harry diz que consegue ver todas os fãs e Zayn fala pela primeira vez ao público pedindo por barulho (“Make some noise”) ainda que, sinceramente, não houvesse necessidade de mais. É depois de apelidar de melhores fãs do mundo todos os directioners que o público acompanha “One Thing” e os cinco desaparecem.

Novo interlúdio e, desta vez, a festa já acabou. Voltamos para ver o resultado ou melhor… os destroços. Do rapaz no colchão da piscina, ao copo de cocktail ainda no gira-discos, passamos por um balão de um peixe palhaço e uma rapariga de saco de cama, bóias e serpentinas e, uma parede com diversas fotografias da polaroid até que… chegamos a Niall. Adormecido num sofá, em pleno corredor, junto à sua guitarra, fica visivelmente incomodado quando o acordamos - e tem pintado na cara um par de óculos e um divertido bigode. Na cozinha, - e sem colheres à vista -, Liam Payne limpa o balcão e arruma a casa com um tapa orelhas – talvez para amenizar a dor de cabeça – e um avental de um tronco nu que veste umas boxers com a bandeira do Reino Unido.

Na rua, junto a uma mesa de ténis de mesa dobrada, e uma espreguiçadeira tombada, no meio de galinhas – e vestido de galinha – Zayn acorda também com a nossa presença e o barulho das aves. Subimos as escadas e cruzamo-nos com Louis que nos cumprimenta no corredor – para já o único com ar “normal”. Seguimo-lo até à casa de banho onde, a lembrar “Foi Assim Que Aconteceu”, está uma cabra pintada de cor de rosa e Harry num banho de imersão. Passamos por um gorila e no regresso à casa de banho, Niall, em tronco nu, tenta, desesperadamente, limpar a cara enquanto Zayn de touca, no duche, nos expulsa da divisão. Já no andar de baixo, Louis procura algo, Liam chama os rapazes e corre para a porta, Harry aparece ainda a vestir o blazer, com Zayn mesmo atrás dele que, antes de sair é atacado por uma bóia. Niall desce – ainda em tronco nu – vestindo a t-shirt e todos começam a sair: Harry acena-nos, Liam – com um chapéu mexicano, um saco de desporto e um crocodilo insuflável – também, Niall faz-nos uma continência, Louis salta e Zayn tira-nos uma foto com a polaroid antes de todos se encaixarem num pequeno e verde mini.

E, do nada, surgem de um alçapão no chão em palco e podemos ouvir uma “C’mon, C’mon” muito bem acompanhada pelo público, e um jogo de espelhos entre alguns dos elementos.

Sobem todos até a uma plataforma no segundo andar do palco e começam a sobrevoar o palco em direção até um outro, bem mais pequeno, situado no meio da plateia. Cantando “Change My Mind”, Louis chama por Lisboa e todos se desfazem em acenos para a direita, para a esquerda, para baixo, para lá mesmo ao fundo. «Este lugar é enorme», comentam. “One Way or Another (Teenage Kicks)” quase faz a arena vir abaixo e todos dançam e saltam. Louis finge pescar Niall e vai ainda a tempo de correr até Liam e placá-lo deixando-o estendido no chão. Payne recusa a ajuda de todos os elementos para se levantar até o fazer pelo próprio pé.
«É agora. Estamos em Portugal!». Gritos, gritos e mais gritos. Felizes e admitindo que há muito ansiavam pela visita a terras lusas, os cinco preparam-se para responder aos tweets. O primeiro perguntava se eles sabiam falar português. «Do you guys speak português?» é assim que Niall lê, provocando risos entre todos. Depois de Harry dizer, com piada, “Obrigado” – já o havia dito meia dezena de vezes, Louis segue-lhe o exemplo e todos pedem desculpa por não falarem. «Mas também não podiam pedir mais… Não é como se tivéssemos sido muito bons na escola». «Porém, o Nando’s é português», acrescenta Harry dando espaço a um passeio de Niall. O segundo tweet pede para que todos imitem um animal de quinta. Harry imita uma galinha na perfeição; Liam, uma vaca; Niall teima em dizer que está a imitar um carneiro enquanto Liam lhe diz que ele soa muito “baaais” a uma cabra. Dos 5SOS, chega um tweet a perguntar se os rapazes são capazes de cantar “I Will Always Love You”, a lendária balada de Whitney Houston. Os quatro aventuram-se, sim, porque Harry ri-se e finge cantar. Entre cartazes gigantes em forma de cenoura, a cartolina amarela que pede adopção ao baterista (“Josh adopt me”), os rapazes cantam “Last First Kiss” e regressam para a plataforma para “Moments”. A balada, sem dúvida alguma, um dos pontos altos da noite deixou todos a cantar e apenas os pais – e os menos fãs – ficaram de olhos secos. Até Zayn, soltou uma lágrima. Em silêncio, os cinco assistiram a um momento arrepiante: todo o pavilhão entoando o refrão.

Liam pede desculpa por interromper mas o momento apela à sinceridade. Sem rodeios, dá um passo em frente e fala: «Estivemos por toda a Europa. Temos tido sing-along fantásticos mas nenhum que se equipare a este. Vocês elevaram a fasquia. Estão noutro patamar. Foram o melhor, o melhor, o melhor de todos». Perdemos conta às vezes que Liam repete “bestest”. Depois de “Back For You”, voltam a desaparecer para o interlúdio final. O último vídeo mostra os rapazes a maquilharem-se e a transformarem-se diante dos nossos olhos: Louis veste a pele de um homem obeso que oferece abraços; Liam e Harry são um casal da 3ª idade – que atravessa passadeiras muito devagarinho - e Niall e Zayn uns desajeitados e desafinados músicos de rua. Como que numa sessão de apanhados, os cinco pregam algumas partidas e provocam reações engraçadas nos transeuntes. Mas, o momento mais emocionante fecha o vídeo. Uma pequena menina abraça Louis e ele revela a sua identidade, desmascarando-se. A miúda incrédula olha para ele e Tomlinson volta a abraçá-la.

É assim que introduzem “Summer Love” – e Harry chega mesmo a sentar-se com Shoony para uma aula de piano. «Pode ser que nos vejam em 2014!», diz Styles, fazendo uma pausa e olhando para a equipa de produção que espreita no corredor. Parece implorar “façam isto, queremos voltar”. “Teenage Dirtbag”, uma música do fim do século, que ganhou nova vida com a adaptação da banda, é acompanhada de imagens dos cinco como heróis de banda desenhada. É também Harry que pede depois ajuda e luzes para “Little Things”, uma das mais aguardadas da noite. Mas as fãs vinham mais do que preparadas: por todo o pavilhão surgiram folhas A4 com a bandeira portuguesa e um coração onde, com a fonte do logo da banda, se podia ler “You’re Perfect to Me” – num trocadilho entre o que os fãs sentem pelos rapazes e um dos versos da balada – em parte composta por Ed Sheeran.

Um ramo de alfazema chega a Liam que agradece e afirma gostar muito da flor. Payne começa então a elogiar os cartazes, os desenhos e a ler diversas frases e, aquelas que não têm dizeres menos apropriados, são repetidas em voz alta e respondidas provocando uma histeria generalizada. Niall tem então direito a um solo de baixo e “Rock Me”, que conta como entrada com um excerto de “We Will Rock You”, dos Queen, deixa todos a dançar. «Isto é incrível. Não haveria outro sítio onde quiséssemos terminar a digressão. Tem sido fantástico. Obrigado. Adorámos a noite». «Zayn, o que achaste?», pergunta-lhe Niall depois de deixar Sandy para trás. «Acho que tens algumas palavras para dizer». «I REALLY-REALLY-REALLY-REALLY LOVED IT». É depois de “She's Not Afraid” que se ouvem os primeiros acordes de “Kiss You” e no meio de confetti e serpentinas, o quinteto maravilha começa as despedidas. Corre para o meio do público, é devolvido pelos seguranças, ao colo. «Vocês são tão barulhentos!»

O desespero das fãs é quase palpável quando crêem que eles abandonaram, definitivamente, o palco. «E nem cantaram a “What Makes You Beautiful”». Depois de um intervalo bastante extenso – antes do encore - as luzes verdes e vermelhas deram mote a que se gritasse por «Portugal». Já no meio de “Live While We’re Young”, Harry passeia com berbequins e finge começar a desmontar o palco enquanto se queimam os últimos cartuxos. Findada a canção, Niall toma a palavra. «Repetindo o que o Harry já disse, vocês proporcionaram-nos um dos melhores concertos da digressão. Esperemos voltar em breve. Ver-nos-emos em breve!», diz piscando o olho. Agradecimentos ao público, à equipa, à produção, a todos os que iam deixar de estar presentes diariamente dos motoristas de autocarros à equipa de montagem. E um obrigado especial aos fãs e à fantástica audiência. «Obrigado por esta oportunidade, pela primeira vez em Portugal. Vamos mesmo ver-nos em breve», reforçaram. «Última música!»

Balões gigantes, confetti sobre o público, o Liam a fingir que um balão é na verdade um saltitão, confusão, diversão e loucura ao som de “What Makes You Beautiful”, o single que os catapultou para o estrelato.
E foi, a tremer, sem falar ou a repetirem que foi lindo, a rever os vídeos, as fotos, a descrever os olhares, os acenos, as brincadeiras que as luzes da arena se extinguiram e as fãs partiram com os versos da “Back For You” – (I’ll be coming back for you”) - no coração cheio – que transbordava pelos olhos. Até 2014.

Crédito das fotografias: Jessi; Luís Carvalhal