As 121 obras da exposição antológica dedicada à obra de Julião Sarmento (1948-2021), a inaugurar na quarta-feira, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, revelam as referências pessoais, as imagens enigmáticas e a forma como explorava "os territórios da sedução".

Trata-se da primeira grande exposição que se realiza após a morte de Julião Sarmento, em maio de 2021, e que ainda foi desenhada pelo artista, em colaboração com a curadora Catherine David.

“Foi um projeto pelo qual o artista lutou e no qual se empenhou de forma extraordinária”, sublinhou hoje a diretora do Museu Berardo, Rita Lougares, durante a visita de imprensa, visivelmente comovida, tal como a curadora.

Tanto a seleção e a disposição das obras na exposição foram finalizadas dois meses antes da morte do artista plástico que explorou diversos suportes ao longo da carreira, iniciada nos anos 1970, e que viria a ser um dos mais internacionais artistas portugueses.

“Abstrato, Branco, Tóxico e Volátil” foi o título escolhido para a mostra, retirado de uma das obras expostas, de 1997, por, segundo a diretora do museu, resumir a obra do artista.

“’Abstrato’ porque a obra de Julião Sarmento dá muitas possibilidades de leituras, ‘Branco’ porque a cor vai desaparecendo à medida que o percurso artístico evolui, ‘Tóxico’ porque há sempre um lado perverso nas suas obras e ‘Volátil’ porque tem a ver com o efémero”, explicitou Rita Lougares sobre uma carreira que demonstra “uma enorme riqueza, coerência e intensidade”.

O quadro, de grandes dimensões - suspenso na maior das 18 salas da exposição -, foi cedido pelo Museu Extremenho e Iberoamericano de Arte Contemporânea de Badajoz, em Espanha.

Catherine David, por seu turno, fez questão de sublinhar que a exposição “não é uma retrospetiva, mas uma ‘retroperspetiva’ do artista sobre a sua própria obra, que continua muito viva”.

Julião Sarmento marcou a sua obra com múltiplas referências da própria vida, influências da História da Arte, pela cultura anglo-saxónica e pelos temas e imagens da literatura e do cinema.

Essas referências são visíveis em todas as suas obras, desde “La Chambre” (1979), “Lick My Breasts” (2005), “Plateau” (1992), “Fifth Easy Piece” (2015), “Noites Brancas” (1982), “Mentiras e Doces” (1997), “Catedral” (1982), “Sofrimento, Desespero e Ascese” (1997), dispostas não cronologicamente, mas por salas temáticas, num total de 18 no museu.

Declarações de amor e paixão, cenas sensuais e eróticas, corpos de mulheres em poses do quotidiano juntamente com excertos de textos filosóficos, quase todos em negro e branco, e raramente com outras cores, foram criados como “um jogo entre a dissimulação e a revelação”.

“Julião Sarmento deixou escrito como queria e onde todas as peças desta exposição, a sua última que ainda criou, e na qual está muito presente”, disse a diretora do museu onde ficará patente até ao final do ano.

Escultura, pintura, desenho, fotografia, filmes em Super 8 dos anos 1970 e instalação, foram os suportes usados pelo artista para as suas obras, criando, muitas vezes, “com o que tinha à mão, no ateliê”.

A dança, a arquitetura, a literatura são algumas das temáticas que surgem no percurso, criado de forma “labiríntica”.

“Apesar de ter uma carreira internacional consistente e estabelecida, Julião Sarmento não ficou parado e atualizou-se”, comentou Rita Lougares sobre um artista que começou na fotografia e passou depois para a pintura, nos anos 1980, altura em que a sua obra abre um percurso internacional pelas feiras Documenta de Kassel, na Alemanha e acaba por obter a consagração nacional em 1997, ao representar Portugal na Bienal de Veneza.

Em 2011 foi alvo de uma exposição no museu Tate Modern, em Londres, e, no ano seguinte, o Museu de Serralves, no Porto, organizou a mais completa retrospetiva do seu trabalho.

Com os imprevistos da pandemia e a morte do artista, a exposição foi sendo adiada, mas ficará aberta ao público quase sete meses, encerrando a 1 de janeiro de 2023.

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